Poder.r

Com o capital sem nação, na nuvem, materializando-se, aqui ou ali, num qualquer off-shore.
Com a produção em movimento, deslocalizando-se para qualquer parte do Mundo.

Resta, aos países desenvolvidos, o know-how, o conhecimento, a tecnologia.
Restará mesmo? Por agora, talvez sim.

Enquanto esses países tiverem as melhores infra-estruturas, serviços de saúde e educação, segurança e justiça.
Enquanto os decisores, os detentores e gestores do capital global entenderem que estes países são os melhores para viverem (com as suas famílias).
Enquanto as administrações das empresas globais não forem maioritariamente, indivíduos vindos de outros quaisquer países, onde o trabalho (e com ele, o capital) estiver.

Até que os “novos” países, em desenvolvimento, com a riqueza em crescendo, melhorem as suas infra-estruturas e as disponibilizem.
Até que as administrações das empresas globais decidam – também elas – se deslocalizar e se aproximar da produção e, com elas, levarem o resto: o know-how, o conhecimento e a tecnologia. Que, ao contrário do que se ainda vai pensando, já não são bens nacionais, mas das empresas que se deslocaram para a nuvem tornando-se, agora…globais.

Face a estas transferências (de capital, produção e do resto), onde passa a residir o poder?
Cada vez mais na nuvem e menos dentro das fronteiras nacionais. Descolou.
De vez em quando aterra e materializa-se, em Davos ou numa cimeira NATO...

O poder democrático

A democracia habilita o poder através das eleições.
Aí, os governos ganham legitimidade democrática podendo satisfazer os desejos da sua base eleitoral, maioritária. Quando esta maioria passa a ser formada, fundamentalmente por não trabalhadores subsidiados (social-dependentes, desempregados, reformados, jovens estudantes) está criado um problema. Só ganhará eleições quem prometer mais benesses a este grupo. O que leva o País para um de dois becos sem saída: ou o candidato mente e fará o contrário quando chega ao poder, ou faz o que prometeu e leva o país à falência.

Em democracia a verdade passará a assegurar uma derrota eleitoral.
Só ganhará eleições quem minta ou quem faça promessas desastrosas;
Se as cumpre, o País vai à bancarrota;
Se não as cumpre cria uma instabilidade social (na rua e na constante necessidade de rever - intercalarmente - legitimidades democráticas).

Em qualquer destas situações, os Países põem-se a jeito para perder a sua independência.
A democracia, passa a ser um problema e não uma solução.

Poder suportado na riqueza que distribui

O poder dos governos deriva, também, das suas funções, dimensão e dependência que cria na sociedade e na economia. Neste âmbito, os governos “socialistas” cresceram desmesuradamente e passaram a ser, eles próprios – e devido à dimensão interventiva que adquiriram - o problema. Com a perda de poder devido (á perda de riqueza controlada) à saída do capital da sua área de controlo, o resultado é a gestão em déficite orçamental e o fim do socialismo, vitima da globalização, ao se desenvolver um novo processo de “redistribuição” mundial da riqueza, a partir da nuvem, para além dos países e incompreensível para as gestões de esquerda, normalmente local-egoístas.

Sem recursos à altura das suas necessidades, os estados socialistas (incluem-se, aqui alguns sociais-democratas - mais sociais e menos liberais) desintegram-se. Pois especializaram-se a distribuir o "bolo", mas nunca souberam como produzi-lo. Com o capital na nuvem, com a cobrança de impostos baseado num modelo inapropriado (sobre lucros e rendimentos que passaram a escapar-lhes), ficaram com o Estado Social nas mãos, sem recursos para o garantir. Curiosamente, esta forma de governo (socialista) acaba por morrer ao se concretizar, por outras vias (do capital), a redistribuição de riqueza que sempre defendeu… Apesar de ser uma distribuição num ambiente mais amplo, mundial e global e não local onde - esgoísticamente - actuam.

Não é inusual assistirmos a protestos de esquerda contra o aumento de custos nos transportes e, em simultâneo, contestarem as políticas intervencionistas nos países que asseguram o fornecimento de combustíveis a preço razoável.

Diminuídos pela mentira ou pelas intenções contraditórias, e pela redução de recursos recolhidos para distribuição social, os governos democráticos não conseguirão ser – globalmente – competitivos.

Já vimos o que se perde. Mas, quem ganhará com este processo?

Apoio ao socialismo

Antigamente, nos países desenvolvidos actuavam vários partidos a partir de ideologias distintas: o liberalismo, a social-democracia, o socialismo e o comunismo. Isto em linhas gerais.

Sabíamos que o capital e quem o geria “puxava” para o liberalismo pois este promovia uma participação mais activa da sociedade, da iniciativa privada, na economia, incluindo na prestação de serviços sociais e até públicos.

Sabíamos…

Agora, não parece ser assim. 
As grandes empresas, de todo o tipo - inclusive as financeiras - que têm vindo a ganhar ascendente nos últimos anos, a nível global, já na nuvem - encontraram novos aliados preferenciais. Que são os governos totalitários e os equivalentes, no mundo desenvolvido: os socialistas. 

E, invertendo toda a prática passada, começaram a isolar os liberais.
Perceberam que é muito mais fácil “controlar” e “negociar” com um Estado, único e omnipresente, do que uma Sociedade activa e com iniciativa própria onde a concorrência faz reduzir as suas margens de lucro. 
Para eles, é sempre muito melhor um Estado onde os Bancos (bons, medíocres e maus) têm sempre os seus lucros assegurados e nunca caiem por perigo de “contágio sistémico” – pagam sempre os contribuintes; 
onde as comunicações, energia e transporte são quase monopólios e onde os preços são todos “sociais”;
onde os riscos ambientais são escondidos; 
onde o poder é forte; 
onde a justiça é fraca; 
onde as decisões se compram mais facilmente;
onde os passivos se acumulam e, assim, no final, tudo fica nas mãos dos financiadores.

Financiadores que deixaram de estar na terra (onde eram controlados) e passaram a estar na nuvem global…

É sintomática a crise das dívidas soberanas na Europa. Começaram onde os governos eram socialistas. Facilmente, os governantes enveredaram pelos processos desejados (pela nuvem). Um Estado Social crescente ou demasiado rígido em economias em queda (a libertar menos recursos), com consequentes défices, mais e sempre mais dívida, perda da independência e ... finalmente, o objectivo atingido: a gestão externa, pelos credores. Que estão ... na nuvem.

A situação apenas agora começou. Passará por todos os Países desenvolvidos que não se conseguirem adaptar mudando (em absoluto) as respectivas Sociedades. Pois a riqueza vai cair. Se as sociedade (desenvolvida) não estiver preparada para viver em recessão - o que será um estado normal nestes países -, teremos, como consequência, uma sucessão de défices, dívida e tomada de poder pelos credores.

O País-tipo ideal para esses grandes grupos globais é a China. Onde tudo se trata e acerta mano a mano. E em grande. Pois o governo manda mesmo e não presta contas a ninguém. E enquanto não forem todos como a China, não descansarão. E o seu instrumento serão ... os socialistas.

Por alguma razão Obama foi "levado ao colo" e ganhou o poder nos EUA. Por alguma razão o crescimento do Estado Social (sem controlo) é prosseguido por Obama. Défice e Dívida. E, em pouco tempo, também teremos os EUA capturados. Assim que tudo (ali) estiver “no ponto”, a China (e quem, a partir da nuvem, também ali manda) retirará o “tapete”.

Curiosamente, a situação actual no Japão poderá antecipar o problema e talvez precipitar o Mundo para uma situação com consequências imprevisíveis. Pois o Japão é, juntamente com a China, o maior suporte e tomador da dívida dos EUA. O terramoto-maremoto-crise nuclear de 2011 obrigará o Japão a mobilizar muitos desses recursos para acudir aos seus problemas internos. A China não estará disposta a cobrir a situação (pois o risco da insolvência será grande e poderá advir mais rapidamente do que se esperaria) o que, aliada à política socialista de Obama, conduzirá os EUA a um problema de dívida soberana em tudo idêntica à vivida em alguns países periféricos europeus. A diferença será na dimensão e nos impactos globais…

Curiosamente, a esquerda (mais clássica), no meio deste processo, vê-se instrumentalizada, pois continua a “puxar” a corda no sentido do Estado maior e mais poderoso, que não presta contas senão a si próprio. Exactamente à medida dos objectivos dos governos socialistas - convenientemente mantidos no poder face a todos os apoios que a nuvem lhes concede - e do grande capital global, curiosamente o seu mais confesso inimigo ideológico.

O liberalismo acaba, também isolado neste processo. 

E o povo que vota e elege quem o governa é facilmente manipulado. Pois a comunicação social já está tomada - é instrumentalizada - pelos interesses globais. Agradando, a estes, de sobremaneira o posicionamento "à esquerda", da classe jornalística. Que defendendo sempre, ideologicamente, o tal Estado Social que acaba sempre sendo suicida e atacando por sistema quaisquer opções ou ideias liberais, coloca os socialistas nos governos e, a médio prazo, os Países, na bancarrota e nas suas mãos...

Nova Sociedade precisa-se

Aliando todos estes  factores, chegamos a uma óbvia necessidade de rever a estrutura base da actual sociedade democrática constituída por uma governação legitimada por eleições universais. A Nova Sociedade exige um novo Estado.

Quando tudo se tornar global e o poder efectivo estiver na nuvem, pouco restará aos países desenvolvidos no modelo actual de governação e legitimação. Ou melhor, numa fase próxima, ainda restará o consumo, enquanto houver alguma riqueza disponível. Mas, até este, gradualmente, se extinguirá.

Como nos poderemos defender?

Com uma Nova Sociedade mais interventiva e que actue (com o Estado, sem dúvida) em todos os sectores da actividade (económica, social e outra). O Estado precisa de ser garante de determinados serviços públicos, mas não, forçosamente, único prestador de muitos deles.

Na Nova Sociedade, como actuará o Estado, que função terá, como se financiará?

Sem comentários: