Alternância.r

Um dos processos cíclicos que têm vindo a dar algum fôlego ao socialismo nos últimos anos, é a chamada alternância democrática que, como veremos, se tornou tão cara aos socialistas, ao ser o “balão de oxigénio” que os manteve, neste período, à “tona de água”.

A alternância democrática não é mais do que uma sucessão repetitiva e circular, fábulamente falando, formiga - cigarra - formiga - cigarra…

Assim, é usual termos um governo socialista que distribui. Acabadas as “provisões”, vem um governo liberal que amealha. Logo depois, cansado de amealhar, o “povo” elege novamente os socialistas para voltarem a distribuir. E assim sucessivamente.

Este processo até parece bom. Em princípio, não permite que uns esbanjem muito e que outros sejam demasiado austeros.

Mas, o que sucedeu - de errado - entretanto?

O processo distributivo socialista não é dinâmico. Não se ajusta à riqueza produzida em cada momento. Os direitos são adquiridos. Ou seja, o que se distribui nunca mais se retrai. A distribuição é estática e rígida. Sempre a crescer. Quando chega uma nova governação socialista ao poder tem de haver sempre um “novo” bolo. Criado pelos predecessores.

Até há poucos anos, esse processo foi possível. Já vimos que o petróleo estava disponível e era barato. Havia produção local e riqueza crescente. Havia liquidez financeira no mercado e investimentos reprodutivos ainda por fazer.

Assim, a alternância democrática funcionava. Para gáudio socialista que, assim, era sempre o “bom” da festa. Apesar de nada fazerem para criar o bolo que distribuíam.

Certo dia, acabou o que era doce e fomos todos confrontados com o fim do crescimento “garantido”.

A gestão anterior (da "formiga"), rigorosa como sempre, já não criou um “novo” bolo. Até porque a dívida socialista, herdada do passado, estava maior. Cada vez maior. E, a partir de determinado momento, tão só conseguiu estancar a perda. Mas o “povo” não percebeu. E, como sempre, quando chegava a hora, depois de um novo período mais ou menos austero, mais ou menos contido, elege novamente os socialistas. Que, desta vez, ao chegarem ao poder, confrontaram-se com uma situação inédita: não havia novo bolo para distribuir.

Mas, perante a realidade, e não sabendo fazer outra coisa, trataram de distribuir o que podiam: um “bolo” virtual. Um bolo feito com o que pediu emprestado. Dentro ou fora do país. Não interessava nada. Défice e dívida pública (soberana dizem eles) foi a consequência lógica. Mas, por essa altura, ainda não era nada de mais. Os governos anteriores tinham deixado a dívida a níveis aceitáveis e havia alguma folga. Os juros estavam historicamente baixos e havia liquidez (quem emprestava) no mercado. As dívidas públicas ainda valiam alguma coisa. Não se falava de "hair cuts"...

Mas, agora…

A crise internacional rebentou.
A liquidez desapareceu, absorvida pelos países mais credíveis (que lhe garantia segurança) e pelos mercados emergentes (que lhe garantia rentabilidade).

Os países (mais) cigarra estão agora no fio da lâmina.
Os países (mais) formiga conseguem-se aguentar.
Os países produtores ganham posição para o futuro.

Infelizmente, o processo democrático é ainda considerado o “menos mau”. Mas, neste novo ambiente económico, não haverá socialistas no governo que se safem. Poderão continuar a lá chegar (será um problema real para o futuro do processo democrático), mas não saberão o que e como fazer. Pois agora que é preciso retirar e não distribuir... 

Agora, haverá que mudar e dar (Apoio Social) de outra forma, mais linear e clara, não permitindo a clássica distribuição socialista que cria as “clientelas políticas” que os reelegem repetidamente. Agora que o que haverá para distribuir será cada vez menos (no mínimo, será variável) em linha exacta com a produção conseguida.

Agora que se deixará de lado a luta socialista pela redução de desigualdades e será necessário lutar pela garantia de uma subsistência mínima digna, para todos, no exacto nível produtivo (que terá de ser recuperado, depois de cair) da sociedade no seu todo.

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