Este blog não resulta de uma série de textos publicados sequencialmente.

Pretende, antes, reunir um grupo de textos dinâmicos, que serão alterados e melhorados à medida que se justifique uma sua revisão.

Poderá consulta-los sequencialmente ou, um a um, na lista à esquerda. Cada um dos textos focará um assunto, mas o texto poderá conter links para outros textos e/ou focar ou desenvolver, aqui ou ali, a mesma matéria desde que se torne relevante para o enquadramento do assunto em questão.

Porquê?

 Uma Sociedade Social & Liberal numa Economia Local & Global 

As ilusões terminaram para as chamadas sociedades desenvolvidas. Nos próximos anos, cairão, um após um, os respectivos ícones: a energia barata, o estado social ilimitado, o pressuposto do desenvolvimento e crescimento contínuos, o equilíbrio social, a democracia. Variáveis que aquelas sociedades consideram como conquistas para a eternidade, como direitos adquiridos.

Na sequência desse processo e, naqueles países, será necessário reconstruir tudo de novo e criar uma sociedade que, sem roturas, possa gerir a redução - incontornável - da riqueza disponível. Ou seja, uma Nova Sociedade.

A globalização, a demografia, a tecnologia disponível, o enriquecimento de grandes países em processo de rápido desenvolvimento, a escassez de matérias-primas essenciais a custos habituais, são apenas realidades que conduzirão aquele destino.

Já não está em questão se vai suceder. Nem quando vai acontecer. Pois já começou. Resta apenas saber como se irá proceder à adaptação de cada país à Nova Sociedade e quão abruptos irão ser os impactos que advirão da mudança.

Introdução

Uma Nova Sociedade...

Os desafios futuros, para as actualmente denominadas sociedades desenvolvidas são grandes. São mesmo determinantes para a sua sobrevivência.

Ultrapassado (que está, já há alguns anos) um período mais ou menos longo de significativo crescimento económico-social, baseado na disponibilidade de energia e matérias-primas baratas, num Mundo globalizado onde:

a expansão demográfica global continua;

o poder, realmente decisivo, extravasou as fronteiras e se instalou na “nuvem”;

os avanços tecnológicos reduziram enormemente o trabalho disponível;

a globalização leva, gradualmente, a produção (e o trabalho associado) para os países onde os bens e serviços acabam mais baratos e concorrenciais no mercado mundial, sobrepondo-se - e erradicando - os restantes;

o crescimento económico regular acabou, quebrando a sustentabilidade da dívida e dos défices recorrentes;

se iniciou um período de recessão persistente ou, melhor, de ajuste em baixa, num processo de convergência com a outra metade do Mundo, emergente;

o número dos não trabalhadores subsidiados ultrapassou o número de trabalhadores contribuintes;

uma enorme massa de indivíduos em grandes países em desenvolvimento aspira e assegura gradualmente uma melhorias da sua qualidade de vida - mesmo assim - para patamares mínimos em relação aos usufruídos pelos habitantes dos países desenvolvidos;

o Estado Social, a democracia e o sistema eleitoral levam os países desenvolvidos a becos sem saída;

os habitantes de países sem futuro, imigrantes, passaram a ser o garante produtivo nos países desenvolvidos onde a demografia é deficitária;

será necessário atenuar a pressão sobre o ambiente e sobre o planeta onde vivemos, que é a nossa casa e onde teremos de encontrar e garantir a sustentabilidade;

Precisamos de uma Nova Sociedade que nos assegure uma Existência Sustentável.

População.r2

Se uma qualquer espécie inteligente, extra-terrestre, visitasse a Terra e a estudasse, tiraria conclusões - para nós - bem preocupantes:

O Planeta existe à 4,5 mil milhões de anos. Desde há cerca de mil milhões, foi sucessivamente ocupado por muitas espécies animais até que uma delas, os Dinossauros, dminaram por muitos milhões de anos. Há 65 milhões de anos, essa espécie acabou dizimada pela queda de um meteorito, abrindo caminho para que uma outra ocupasse o seu espaço no topo da cadeia de poder.


O Planeta Terra situa-se no Sistema Solar que, por mais 1,5 mil milhões de anos, terá condições para suportar vida. Depois disso, o Sol tornar-se-há tão quente que será impossível manter qualquer espécie viva, até que, no final, absorverá o planeta.

Sem grandes dificuldades, aqueles visitantes concluirão estar perante uma praga biológica em crescimento e consumo de recursos naturais, a ritmos incomportáveis, sem que se vislumbre qualquer controlo ou capacidade de inversão da situação, com o mínimo de eficácia, danificando continua e profundamente o (seu) meio ambiente, num processo que só poderá levar a um fim trágico.

A nós, raça humana, custar-nos-há um pouco reconhecer a condição degradante de sermos reduzidos a uma praga biológica. Mas ... os extra-terrestres terão razão.

A evolução demográfica continuará enquanto se mantiverem as condições para tal. A História Humana demonstra que – até hoje – todas as sociedades humanas cresceram de forma proporcional ao aumento do número de indivíduos que as compõem. Desde sempre, os pais contaram com (e fizeram) filhos para assegurar o seu futuro e o das comunidades onde se inseriam. Que cresceram à conta dos (cada vez mais) novos elementos.

Na China, foi tentada uma contenção do crescimento populacional. Hoje, a situação está a ser invertida pois concluiu-se o esperado: o paradigma do crescimento, na sociedade actual, depende, em muito, do crescimento populacional... O que se torna numa dependência perigosa quando o Planeta, a sua capacidade de "encaixe" e os recursos que dispõe, atingem os seus limites.

Nos Países desenvolvidos, onde a demografia regrediu, passou-se a depender fortemente de novos trabalhadores, vindos do exterior, para o sustento do "crescimento económico" local. Abriram-se as portas à emigração de novos habitantes que substituíram os autóctones nesse processo de (necessária) renovação populacional, tão determinante para o "crescimento económico" das actuais sociedades desenvolvidas. Quer se queira, quer não se queira reconhecer, a Alemanha não seria o que é hoje, sem a emigração significativa e crescente que vai garantindo o funcionamento da sua indústria e suportando o seu crescimento. Mas, até quando é sustentável esse processo e com que custos? Nomeadamente no que se refere ao equilíbrio social e à sua cultura, tão relevante para o País que faz com que ele seja o que é hoje? 

Tudo isto leva-nos a uma conclusão simples, facilmente perceptível pelos nossos visitantes do espaço: os humanos implementaram uma sociedade baseada num sistema de pirâmide (Ponzi ou Dona Branca), fazendo depender o seu crescimento e a melhoria dos seus níveis de vida, do crescimento populacional.

Infelizmente, todos os esquemas deste tipo têm um fim. E o fim é trágico, penalizando aqueles que lá estiverem, no topo da pirâmide, na altura da rotura. Só que esta rotura, desta pirâmide, determinará o fim de um ciclo e uma vida futura, muito diferente da actual, para grande parte da população mundial.

Das duas uma: ou se antecipa e se precavê esse destino agora, de imediato, ou, para os países desenvolvidos, a pirâmide ruirá num período de tempo mínimo, com graves consequências. E esse prazo é tão curto que até poderemos arriscar que, nessa altura, por cá ainda estarão muitos dos que hoje, ainda poderão ter uma palavra a dizer. É que, apenas deixando andar, tudo se complicará…

Tecnologia.r

Desde sempre, a Humanidade valorizou e procurou criar novas tecnologias que permitissem a melhoria da sua qualidade de vida. Criou máquinas que foram auxiliando e até substituíndo o Homem nos trabalhos pesados e repetitivos.

Desde a manipulação do fogo, a descoberta da agricultura e da roda, tudo foi feito com o objectivo da espécie se conseguir impor no meio ambiente em que vivia, criando condições para a sua multiplicação e expansão.

Nas últimas centenas de anos, descoberto o motor e fontes de energia acessíveis, manipuláveis e baratas, a Humanidade expandiu-se de forma exponencial e terá, nesse período, concretizado o seu maior sonho: as máquinas passaram a ser determinantes na produção e o trabalho (intervenção humana) reduziu-se brutalmente. Inesperadamente, chegados aí, em vez de entrarmos num período de maior à-vontade e qualidade de vida, chegamos a uma encruzilhada...

Não há trabalho que chegue para todos

O sistema não acompanhou a evolução tecnológica e o modelo social revelou-se totalmente inadaptado. Esta nova situação exige grandes transformações. Em muitos países, a falta de empregos cresce e começa a ser irreversível. A globalização levou os empregos nos sectores primários e a China açambarca os empregos na área dos bens transacionáveis (industriais e de manufactura).

Apenas as nações com populações altamente formadas e com algum “know how” tecnológico estão a resistir (por mais uns anos) à situação. Valorizando, por agora, a ligação (cada vez mais ténue) desse saber ao País. Ao mesmo tempo, os encargos sociais com a protecção dos desempregados (e suas famílias) sobrecarregam os cofres públicos. 

Até agora, as sociedades desenvolvida vinham conseguindo crescer ano após ano. O suficiente para acomodar as necessidades de criação de mais emprego e enfrentar as exigências sociais, sempre crescentes. A recessão era uma situação pontual, geralmente resolvida com algumas políticas monetárias ou endividamento externo, recuperáveis nos anos seguintes. Nos últimos anos tudo isto mudou e, daqui para a frente nada será igual. O estado recessivo das economias desenvolvidas será uma constante e as economias produzirão menos. Neste novo "ambiente" global, a perda de empregos, nestes países, nunca será pontual. Sejam os empregos perdidos por via da introdução de novas tecnologias, sejam aqueles que se perdem por perda de competitividade no mercado global, por deslocalização da produção ou finalmente, porque a economia, simplesmente, entra no processo de retracção que se generalizará nestes países. O problema mais grave acontecerá nos países que se mantenham alheados desta (nova) situação e entenderem sempre que o problema é (como antes era) pontual e reversível. Não é. Estamos mesmo numa curva da mudança e a rotura será grave se a realidade só for reconhecida quando as dívidas pública, empresarial e particular (principalmente se forem externas) atingir valores incontroláveis, perante uma economia que só pode cair... 

Mas chegamos ao primeiro paradigma na Nova Sociedade:

O trabalho é o seu bem mais determinante.

A mudança iniciar-se-há com a divisão do trabalho ainda disponivel, com a correspondente e proporcional redução de rendimentos. 

Mais tarde, o trabalho será assumido como um bem não generalizável e não acessível a todos. Muitos viverão subsidiados e teremos uma sociedade em que todos serão consumidores, mas apenas alguns serão produtores. E, neste grupo, uns produzirão (e ganharão, por consequência) mais que os outros, meros consumidores.

Este processo, de transição entre a sociedade actual e a Nova Sociedade deverá ser feita gradual e conscientemente pois o risco de haver roturas sociais, no percurso, será enorme.

Os módulos de trabalho a que hoje chamados de "empregos" serão totalmente eliminados. A primeira fase, de redistribuição do trabalho disponível, reduzirá as horas diárias que hoje são referência com a consequente e proporcional redução das remunerações. Nesta fase, inicial, serão trazidas mais pessoas para a produção, mas esse processo terá um limite natural. Pois, já não falamos de empregos mas de trabalho (efectivo e produtivo) e haverá sempre um limite mínimo rentabilizavel (digamos, 5 horas diárias).

As tarefas mais divisíveis serão sempre as menos especializadas. Os indivíduos melhores e mais produtivos (não nos estamos a nos referir apenas à quantidade de trabalho) trabalharão e ganharão sempre mais que os restantes. Serão as elites de cada sociedade. Corresponderão à antiga classe média que, por via das novas condicionantes globais se verá algo restringida na sua dimensão.

A Nova Sociedade, em oposição às sociedades socialistas actuais, mais concentradas na entrega de riqueza às populações improdutivas,  precisarão daquelas elites como motores e dinamizadores do desenvolvimento que garantirão a riqueza necessária para a existencia da sociedade como um todo, incluindo o processo de redistribuição social de riqueza (Suporte Social), através de um modelo transversal e generalizado a toda a população, sem excepção, com base (proporcionalmente) aos recursos efectivamente recolhidos através dos impostos. Sobre este apoio, devido a todos, cada um acrescentará - acumulando - os rendimentos do seu trabalho.

Haverá sempre uma parte da população que, por inveja, combaterá essas elites. Se essa parte da sociedade conseguir levar avante com esses intentos - nomeadamente elegendo partidos com opções socialistas para os respectivos governos - essa sociedade arrisca-se a entrar numa espiral suicida (economia em retracção significativa, bancarrota e perda de independência) da qual poderá nunca sair face às novas evolventes globais.

Actualmente, os apoios sociais actuam na ausência ou em complemento dos rendimentos do trabalho. Este modelo é igualitário e potência a opção de muitos em não trabalhar. É um modelo de origem socialista e social democrata que os novos paradigmas sociais tratarão de erradicar. As classes mais baixas optam claramente por não trabalhar pois os subsídios directos, indirectos e serviços gratuitos e subsidiados a que apenas eles têm acesso, não deixam qualquer espaço à escolha. Não trabalhar é sempre perferível. E, por muito que se esforcem as entidades que controlam o processo, quem não quer trabalhar não trabalhará nunca.

O Estado Social Europeu criou a ideia peregrina dos direitos sem deveres, falhando também no facto facilmente verificável de que, com o passar do tempo, tudo se agrava. Aqueles que trabalham e ganham pouco (a classe média baixa) acaba por se aperceber que os seus vizinhos de baixo (socialmente falando) vivem melhor que eles por via dos multiplos subsídios, apoios, descontos e isenções que se lhes atribuem em todas as situações que enfrentam. E, rapidamente, se cria uma pressão descendente que levam os primeiros a se juntarem aos segundos.

Esse processo, obviamente, resulta em haver cada vez menos gente a trabalhar e muitos mais à procura de apoios sociais. O círculo fecha-se e volta a abrir-se. Mas cada vez mais hávido de recursos. Logo, os Governos eleitos pela maioria subsidiada criam mais subsídios, mais impostos. Com mais impostos, asfixiam todo o tecido económico e a população que que produz a riqueza, que sendo cada vez menos, origina menos impostos. E o círculo fecha-se e volta a abrir-se... até à rotura final e total.

A curto muito curto prazo, multiplicando-se estes circulos viciosos, apercebemo-nos que o Estado Social Europeu, tendo sido criado para erradicar a pobreza, acaba por ser o seu motor…

Atirar dinheiro para os problemas só os faz aumentar.

Um circulo vicioso que só terá saída numa Nova Sociedade.

Globalização.r

O fenómeno da globalização resulta em termos simples, da abertura das linhas comerciais, estabelecendo a livre circulação de bens e serviços entre todo o Mundo. Como em todos estes processos, alguns países resistirão, integrando-se - porque será impossível não o fazer - mais tarde.

É um fenómeno incontornável e a discussão sobre uns serem a favor e outros contra é totalmente inútil. Tal como não vale a pena discutir sobre o nascimento do Sol. Acontece sempre, todos os dias, mesmo que uns possam ser contra o seu aparecimento e outros a favor. A globalização é, simplesmente, uma realidade na qual teremos que (sobre) viver.

A concorrência - a todos os níveis - resultante da globalização é uma realidade, mas, apenas acontece até se determinar quem é o participante melhor e mais apto. Aí, nesse ponto, a procura, o mercado e o poder concentram-se nas (muito) poucas empresas, que ao ganhar dimensão e implantação global, sobem à nuvem onde se passam a "localizar". Empresas que, mais do que multinacionais, são empresas sem nação. Que funcionam cada vez mais desligadas e menos dependentes de qualquer localização física.

Este processo é conduzido e sustentado por capitais e (por outras) empresas que se interligam das mais variadas formas. Partilham os capitais, os administradores, os gestores, a produção (componentes) e o know-how.

A globalização tem precedentes históricos. Os Impérios apareceram e desapareceram ao fim de algumas centenas de anos. No passado, a junção de grandes áreas geográficas sob uma mesma gestão, era usualmente conquistada à força de armas. O progresso advinha, não só para a nação dominadora (que ganhava recursos e mercado) mas, também, muitas vezes, para as nações dominadas, através do contacto com novos conhecimentos, tecnologias e culturas mais avançadas. Os Impérios caíram sempre pois, mesmo com ganhos evidentes na sua qualidade de vida, os povos subjugados mantém a sua consciência de dominados, o que sempre desagradou a quem fica numa situação dessas. Ao fim de algum tempo, depois de terminado o processo expansionista (e por razões evidentes os impérios não se sustentam em paz) começam a aparecer as contestações e a vontade de independência dos povos acabam por levar sempre à desegregação.

Os EUA e a URSS são (foram) os últimos grandes impérios.

A URSS desagregou-se (restando a Rússia) no final do século XX e os EUA mantêm a sua posição, provavelmente à custa da sua juventude (apenas 250 anos), da sua liderança mundial que garante qualidade de vida através da criação de acessos aos recursos que necessita.

Como veremos, até os EUA já não tem a seu futuro garantido pois, os seus deficits orçamentais e comerciais constantes e a dependência no consumo de bens fabricados no exterior colocam-nos, cada vez mais, nas mãos dos credores, estejam lá onde eles estiveram - cada vez mais, na… nuvem.

A situação actual diferencia-se da dos antigos impérios pelo facto de já não haver uma nação (geograficamente falando) dominadora. O poder integrador é o capital e este já perdeu, em grande parte, qualquer ligação às nações. E isto faz toda a diferença: não só não há uma nação a “sugar” as restantes (os capitais ganhadores vão para a nuvem e daí voltam ao sistema) como as nações e zonas geográficas hipoteticamente subjugadas acabam por ser as mais favorecidas no processo global.

Numa primeira fase, a globalização começou por ser contestada pelas forças da esquerda clássica. Com base na contestação da “exploração” que os países desenvolvidos impunham aos restantes, ao usufruir de bens e serviços, importados, a baixos custos, beneficiando de trabalho em infra-condições sociais.

A verdade é que, nesse processo, a verdadeira riqueza estava já em transferência. E na direcção do mais desenvolvido > para o menos desenvolvido. Do mundo desenvolvido para as outras nações. As fábricas que passaram a ter uma localização volátil (em função das condições oferecidas) e o trabalho acompanhou-as. Encerravam ali, apareciam aqui, desapareciam aqui, abriam acolá. Entretanto, o capital subiu à nuvem.

A “exploração” denunciada pela esquerda até poderá ser uma realidade para o ponto de vista ocidental. Mas não será no ponto de vista dessas sociedades. E é, apenas, a fase inicial do processo. Logo, logo, conquistado o bem fundamental (ou seja, o trabalho) as forças (da economia e finanças globais) ficam alteradas e o crescimento - e o desenvolvimento - deslocaliza-se.

Numa segunda fase, os países desenvolvidos ainda julgam manter as rédeas do processo. Usufruem dos bens e serviços a custos ínfimos (a que nunca poderiam usufruir se os tivessem de produzir localmente) e sentem-se seguros pois mantêm a tecnologia nas mãos das suas empresas. Aquela que cria os bens e a que permite montar as fábricas que os produzem.

Infelizmente, esta é, também uma fase transitória. 

Na terceira fase, o know-how também se vai. Não para os países-fábrica (produtores) mas para a … nuvem.

Antes, quem se dignava a trabalhar por menos, emigrava para os Países onde estavam as fábricas. E onde a população, mais rica, se recusava a ocupar esses postos de trabalho, mal remunerados. Agora, na sociedade globalizada, o processo inverteu-se: são as fábricas que se deslocalizam. E com elas, a produção, o trabalho e a riqueza. E isto faz toda a diferença. Na sustentabilidade dos Países desenvolvidos e nos seus (os actuais) sistemas fiscais e retributivos que se passam a revelar completamente ultrapassados e inadaptados às novas realidades.

Neste ponto, para os paises desenvolvidos, chega-se à encruzilhada. Passaram de criadores-produtores-consumidores para criadores-consumidores e finalmente, serão só consumidores. E, nenhum país poderá subsistir dessa forma. Ou seja, apenas o será enquanto quem tem o dinheiro entenda que isso lhe interessa. Sejam os investidores, sejam os produtores (que gradualmente, passarão a ser os mesmos, deslocalizados).

A globalização é um processo que poderá ser exemplificado a partir de um conjunto de recipientes cheios com água. Antes isolados, uns muito quentes (menos e mais pequenos), outros frios ou mornos (mais e maiores). Agora, todas essas unidades estão ligadas através de vasos comunicantes. Que são cada vez mais e mais eficazes na troca de energia. Como a energia total desses recipientes não pode crescer indefinidamente (o sistema no seu todo é finito), haverá um momento em que o aquecimento de uns faz-se-há, inevitavelmente, apenas à custa do arrefecimento de outros.

Passando à economia, o “aquecimento” de sociedades como a China, a Índia e o Brasil acontecerá à custa do “arrefecimento” das sociedades mais desenvolvidas. Resta saber a que ritmo e com que consequências, para estes últimos.

A globalização vive destes fluxos e destas desigualdades e desequilíbrios. E, curiosamente, leva-nos ao mesmo objectivo que a sociedade comunista se proponha chegar: a igualdade.  Mas, exactamente pelo caminho inverso, colocando de lado os egoísmos locais e apontando para os equilíbrios globais.

O que nos leva a uma conclusão final:

Os países (hoje) desenvolvidos viverão numa Nova Sociedade que será mais simples e frugal do que a actual. O crescimento contínuo terminará (e com esse fim, toda a actual teoria económica baseada num esquema de Ponzi - no crescimento populacional, na energia barata e disponível) e o estado de recessão e retracção económica passará a ser normal, a gerir, a caminho de um ponto de equilíbrio (global) que será, necessariamente para os países (hoje) desenvolvidos, algo abaixo dos níveis que usufruem actualmente.

Com que consequências? Com que velocidade e gradualismo ocorrerá a mudança? A isso responderá cada país, da sua forma. A partir dos seus trunfos, que serão diferentes em cada caso.

Como poderá ser gerida a mudança nestes países?
Uma mudança em descendo, na procura de uma aterragem suave?
Em primeiro lugar, acabando com os "ismos" ideológicos. Socialismos, comunismos e sociais democracias. Eram ideias válidas localmente, em termos geográficos e temporais. Desajustadas do novo enquadramento global. Onde cabe o pragmatismo. E a boa gestão pública e não só.
Já não sobreviverão os países (desenvolvidos) com equilíbrios sociais baseados na ideia de uma distribuição de riqueza, a níveis definidos localmente e isolada dos fluxos e novos equilíbrios impostos pela globalização. 
Os níveis de riqueza médios futuros tenderão a se equilibrar no futuro a nível global. Uma situação que aponta para um período de crescimento em alguns países; e, para outros, uma forçosa descida de expectativas e de nível de vida a que se habituaram.

Pragmatismo não é liberalismo e globalização desenfreada.
É definir uma linha que separa o que é global do que é local.

Pragmatismo inclui estabilidade social. Daí, uma parte da riqueza produzida, de direito, a todos. Mas também uma diferenciação - mesmo que limitada - necessária garantindo que quem mais produz possa guardar o seu prémio. Incentivando quem mais e melhor pode produzir.

Pragmatismo é retirar os entraves ideológicos (na maioria dos casos ligados a um passado que não voltará, num Mundo sem globalização) e abrir mentes a novos caminhos.

Pragmatismo é procurar soluções de estabilidade social a partir dos recursos disponíveis que se libertam da economia real. Sem ultrapassar os limites da respectiva sustentabilidade. Evitando processos que levam à morte da galinha (economia) dos ovos de ouro (recursos libertos).

Pragmatismo é uma maior abertura a novas iniciativas comunitárias, que se juntam ao Estado que actua como garante, mas se limita a si próprio como prestador (de serviços) onde a sociedade civil não for capaz de o fazer. É, no fim do processo, a introdução de mais liberdade. Mais concorrência. Mantendo o Estado, mas acrescentando mais opções. Pois a liberdade é mesmo isso: opções e escolhas. Quem terá medo de mais liberdade?

E quando aquele o (ponto de) equilíbrio mundial for atingido? Quando o Império Global perder os fluxos que o sustentam e o mantém? Terá o mesmo fim dos antigos impérios? O que virá depois?

As ambições de nível de vida (média) da população chinesa atingirão os do actual mundo desenvolvido? Mesmo que isso seja incomportável para o Planeta (ao nível ambiental) e se faça à custa da "morte" do resto da população Mundial? Ou haverá uma consciência (global) para marcar e cumprir com limites?

Será que já passamos os prazos para que isso possa ser concretizado?

Sectores.r


A globalização trará justiça na distribuição de recursos no Mundo.

Este foi o argumento de sustentação da globalização. Em teoria, academicamente, nada a opor. O incremento (liberdade) das trocas comerciais entre os vários países e zonas do Mundo  deverão conduzir aquele objectivo.

Muitos países, ainda dispõem de mão-de-obra barata. Dessa forma, conseguem produzir a preços atractivos, atraindo as multinacionais (e não só), o Trabalho e a correspondente riqueza. Mesmo que esta seja apenas uma expectativa ou para usufruto futuro...

Outros paises, mais ricos, acedem a produtos e serviços a (baixos) custos impensáveis, caso a produção fosse local.

Parece bom para todos. E é, numa primeira fase.

A globalização vive à custa de desigualdades. De custos do trabalho e rendimentos distintos. De diferenças de “aquecimento” económico entre países, entre zonas (nos maiores países) ou ainda, entre grupos populacionais dentro da sociedade. Neste último caso, criando discriminações sociais mais ou menos evidentes, mais ou menos lícitas, mais ou menos aceitáveis. Nos países mais ricos, direccionando recursos humanos (emigrantes) para as tarefas mais básicas e mais mal pagas da sociedade (os locais recusam essas tarefas com base na formação adquirida e em sistemas de protecção social e desemprego remunerado que lhes permite fazer isso).

Essas diferenças de "aquecimento económico" são determinantes para a criação de fluxos de capitais, trabalho, indústrias, matérias-primas, produtos e serviços entre esses pólos de desenvolvimento de “temperatura” distinta. Que procuram sempre os melhores locais, custos de produção inferiores, benefícios fiscais e proximidade das zonas de origem da matéria prima.

No final do processo, a longo prazo, esses fluxos tenderão para equilíbrios. Pelo que os impactos e os dinamismos da globalização diminuirão à medida que aqueles forem sendo atingidos.

Até lá, continuaremos a assistir a crescimentos significativos em alguns países em desenvolvimento (China, Índia, Brasil) por força da globalização (abertura e crescimento de novos mercados de produção e consumo) e noutros, à base da riqueza trazida pelos recursos naturais que dispõem (Noruega, Venezuela, Angola).

Mas, nos países desenvolvidos, que não possuírem esses recursos naturais, o processo será inverso.

A globalização disponibiliza-lhes produtos baratos, elevando a sua qualidade de vida da sua população. Mas, como vimos, a face oposta da moeda é o contínuo desaparecimento do trabalho, que se deslocaliza irremediavelmente para os países que produzem esses bens. Para onde vai grande parte do rendimento, do capital liberto. Logo, vão com estes, as unidades produtivas, o trabalho e o emprego. A médio prazo, instala-se um processo de redução gradual, mas invertível, da riqueza disponível.

Um processo que conduzirá à rotura social ou a uma Nova Sociedade.

Não se pense que haverá países desenvolvidos imunes a este “recuo”. Simplesmente uns cairão mais fundo e/ou mais rapidamente que outros. Em função das matérias-primas e energia que possam ter disponíveis (suas e outras, externas, acessíveis das mais váriadas formas, tais como através da sua capacidade financeira, militar ou outras), da gestão da mudança que consigam empreender e do trabalho e consolidação que façam ao nível das estruturas produtivas locais.

Como vimos atrás, o trabalho será a base de toda a riqueza e da qualidade de vida das populações na Nova Sociedade.

Na Nova Sociedade, nos países desenvolvidos, a “recessão” será um estado normal das economias e deixará de ter o peso negativo actual. Pois como será fácil reconhecer, as populações destes países vivem bem acima dos níveis de sustentatibilidade global e local.

Esta mudança já começou. Não nos iludamos com crescimentos pontuais na ressaca de quedas anteriores. Ou ainda com situações extraordinárias resultantes de financiamentos externos (resultantes de opções próprias ou de decisões do mercado à procura de locais mais estaveis e de salvaguarda para os seus capitais). A mudança já começou e, nos países desenvolvidos o processo é descendente.

Todos procuram adivinhar se a crise actual terá um processo de recuperação em V ou em U, ou se será W ou qualquer outra letra cuja representação gráfica termine, convenientemente, “em cima”…

Ora, não será assim, nestas economias. A letra provável será um L. O que variará em cada pais será a inclinação das duas linhas do referido L. Ou se cai muito e rápido ou pouco e de forma lenta e controlada. A linha de base até poderá assumir uma direcção em crescendo. Mas nunca atingirá os níveis iniciais que traduzem a situação dos últimos anos.

Muitos economistas, da velha guarda, definem a mudança em curso como uma alteração de paradigma que transforma as relações entre países de um WIN-LOSE de resto zero para um WIN-WIN onde todos ganham. Essa seria uma mudança desejável, só que não passa de um desejo. Infelizmente, o futuro não se apresentará de nenhuma destas formas. Será sim um WIN-LOSE de resto negativo (quem perde, perde sempre mais do que ganha o outro). Isto porque o Planeta tem suportado até onde pode as exigências da humanidade nos últimos anos e já não aguenta mais. A energia disponível cairá significativamente, num período algo demorado, entre o fim da disponibilidade ilimitada e barata dos combustíveis fósseis e o advento de uma nova tecnologia substituta.

A crise actual é apenas o início do processo de ajuste que se segue. Os países em desenvolvimento e os que têm energia e matérias primas próprias ou ao dispor não sentirão crise alguma. Os primeiros porque partem de baixo e são atractivos para o capital que quer produzir a partir de economias que lhes garantem trabalho a baixo custo. Os segundos porque vivem sobre jazigos valiosos. Esta crise consiste apenas no início do Futuro. A recessão passará a ser um estádio normal, a gerir o melhor possível. O sucesso passará a se traduzir na melhor ou pior gestão da "descida".

A queda dos países desenvolvidos será tanto maior quanto mais adiarem a mudança para a Nova Sociedade. Se a queda passa a rotura, os problemas poderão ser enormes.

* A mudança na Economia

A mudança passa pela imediata reversão da desertificação (local) de muitas actividades económicas, provocada, nos últimos decénios, pelo comércio global que trouxe para os mercados locais produtos vindos do exterior a preços extremamente agressivos, por não terem incorporados, no seu preço, os custos sociais de quem os produziu e por se basearem em trabalho de baixa retribuição.

Esta inversão é fundamental para assegurar a revitalização (local) dos sectores económicos básicos e estruturantes.

No Velho Continente, a Comunidade Europeia tem enfermado neste erro, “afundando” as actividades básicas nas economias locais e regionais, através do financiamento directo da sua eliminação e do policiamento aguerrido na garantia da salvaguarda da concorrência inter-comunitária, impedindo políticas locais e regionais de incentivo às actividades que assegurariam a sustentabilidade daqueles sectores, comprometendo seriamente o futuro.

Na Nova Sociedade, a ocupação da população terá determinadas características:

1)Trabalho produtivo
            Em actividades básicas, locais e estruturantes
            Na área dos produtos e serviços transaccionáveis
            Na área dos serviços locais e lazer

2)Não trabalhador (estudante, reformado, desempregado, beneficiário).

3)Trabalho não produtivo (a eliminar, gradualmente através de reestruturações sociais).

4)Emprego inútil (a eliminar imediatamente).

* Sector económico básico, local e estruturante

Este sector incluirá toda a estrutura económica de base.

Juntará todas as actividades relacionadas com a produção alimentar e a energia criada localmente. Acrescem os respectivos serviços conexos (gestão, operacionalização, distribuição e segurança. Juntam-se as comunicações e os serviços básicos de saúde e educação.

Academicamente, para se apurar quais as actividades que devem ser situadas neste sector, executa-se um exercício simples: caso a localidade (zona geográfica em questão) fique isolada do resto do Mundo, estas actividades não deverão ser colocadas em causa a fim de ficar assegurada, embora de modo totalmente distinto do usual, a sobrevivência da sociedade em questão. 

Pelo que se junta o planeamento, a preparação e o treino de protecção civil complementar onde cada elemento da população terá um papel pré-definido. Onde quem trabalha - nestas actividades - continuará a fazê-lo, mas recebe “reforços” da população que virá dos outros sectores de actividade, inúteis numa situação de emergência. 

Outro papel fundamental é a segurança, onde as forças militares e policiais assumirão o controlo. Também reforçado por outros, vindos da sociedade civil. Uma espécie de “reserva civil” (Israel tem um modelo destes, por outras razões e para outros efeitos) que deverá incluir uma semana anual de preparação e treino. Neste plano deverão ser previstos e preparadas as situações de alojamento e reafectação de actividades das populações urbanas que apenas sobreviviriam -neste modelo académico-  junto às zonas onde se produziriam os alimentos.

As estruturas deste sector passarão a ser geridas de uma forma independente do exterior e das relações comerciais globais. Terão de estar totalmente protegidas das regras da concorrência (que as eliminariam) a fim de garantir - localmente - um determinado nível de produção e a salvaguarda da manutenção do conhecimento sobre o que fazer e como produzir.

* Sector de produção de bens e serviços transaccionáveis

Neste sector, juntam-se a extracção de matérias-primas e as indústrias apontadas para a exportação (incluindo o Turismo). Todas elas criadoras de bens e/ou serviços transaccionáveis, fundamentais para a criação de riqueza e bem-estar da sociedade produtora.

Constituirão a contribuição da região para a economia global e a sua “moeda de troca” no acesso a outros bens e serviços produzidos externamente. Quanto mais se vende, mais se poderá comprar. Inclui-se, aqui, a Indústria e o Turismo; e os serviços de Saúde e Educação de nível médio.

* Sector de Serviços especializados locais e de lazer

Neste último sector incluem-se outras actividades (principalmente serviços) de valor acrescentado, que, existindo e estando acessíveis potenciam a qualidade de vida local e a atractividade nas zonas turísticas.

* Ideias básicas

Um País ou Região, grande ou pequena, terá que salvaguardar a sua existência, na Nova Sociedade, através de uma atenção acrescida na valorização do sector básico da sua economia. Que constituirá a sua estrutura, o trampolim, o seguro de vida, o garante de tudo o que, a partir daí, poderá fazer e produzir nos sectores de nível superior superiores.

Não haverá solução, nem futuro, nos casos em que o novo processo económico não se construa de baixo para cima. Uma sociedade que perca o sector básico ficará totalmente refém do exterior. Perderá a sua autonomia. Sofrerá em cada situação em que a economia global se “constipe”. E isso acontecerá repetitivamente e cada vez mais, à medida que o aquecimento global se vai incrementando e originando mais catástrofes naturais, que a energia rareie e não chegue a determinadas zonas.

Como já se referiu, uma parte significativa da população não “caberá” nas actividades disponíveis - não terá trabalho - nesta nova organização social. Muitos viverão sem ele e com um rendimento mínimo. Que será garantido, mas não fixo. Dependerá ou será directamente proporcional à riqueza produzida - efectivamente - pela Sociedade no seu todo. Que se libertará para este efeitos, por razões solidárias, mas também - e perdendo algum cinismo - por razões de estabilidade (e não de igualdade) social.

Nessa altura, na Nova Sociedade, as actividades produtivas contarão com os mais capazes e com os recursos necessários e essenciais, sem quaisquer “gorduras” desnecessárias. As Elites serão determinantes neste processo. As pessoas certas nas tarefas certas. Para bem da sociedade no seu todo, os mais capazes devem ocupar os (cada vez menos) lugares disponíveis.

Assim, maximizando a produção, todos acederão a uma parte da riqueza conseguida. Por via do referido novo modelo de Suporte Social.

Infelizmente, os procedimentos preventivos de sobrevivência de um País ou Região - por si só - num caso se emergência global, de nada serve se todas as outras zonas (vizinhas) não fizerem o mesmo… 

Pois aí, a população da zona desestruturada logo cairá em cima da zona onde a situação estava prevenida. E aí, será mau para todos. Uma Ordem Global será sempre necessária para garantir que todos ou determinado grupo de paises cumprem o seu "trabalho de casa" nestas matérias e que, em conjunto, se salvaguardem de outros países, vizinhos, que não o façam. A NATO evoluirá para assegurar um papel deste nível.

Temos vários exemplos de “constipações” sócio-económicas que originam problemas. Para já, não passaram de resfriados leves:

A Gripe A foi uma boa “vacina”, na preparação de algo do tipo que aí venha, mas mesmo a sério.
Uma qualquer greve em refinarias ou transportes, cria logo uma situação de enorme transtorno (talvez rotura) na distribuição de inúmeros produtos, muitos deles essenciais, em muitos locais.
Uma catástrofe natural ... numa zona de produção intensiva de trigo,milho ou arroz determina, de imediato, um aumento de preços e a escassez nas zonas mais desfavorecidas...
Um acidente grave (central atómica)...
Uma guerra…
Uma acção terrorista de sucesso em qualquer local determinante…

Como vimos, a Nova Sociedade promoverá o isolamento regional do sector básico em relação ao exterior (isentando-o das regras de concorrência global), revertendo os erros cometidos nos últimos decénios, criando zonas que deixaram de ter qualquer capacidade de se auto-sustentarem em termos alimentares e energéticos.

A actual política, de especialização global (isola-se toda a produção nas zonas mais apropriadas para o efeito) é compreensível e até ideal em termos teóricos. Produziria quem possuísse melhores condições para tal. Mas esta opção "tropeça" quando ocorre uma qualquer “constipação” na economia. Que pode colocar uma sociedade em rotura, em pouco tempo.

Em grandes metrópoles, o problema poderá ser gigantesco. O plano de “protecção civil” obrigará a enormes movimentações e adaptações. O regresso aos campos poderá ser necessário e terá se ser feito controladamente, sendo necessário estar preparado para isso.

A Globalização trará justiça na distribuição de recursos no Mundo. Mas não poderá actuar transversalmente, em todos os sectores económicos, sem excepção. A Nova Sociedade definirá as suas fronteiras de actuação. Para que “os eucaliptos não tomem conta da floresta”.

* Conclusão

O Sector Básico assegurará a produção estrutural de cada local. Alimentação e energia. A intervenção - dinamizadora - dos poderes públicos locais neste sector será livre, isento do cumprimento das actuais regras da concorrência global. 

O Sector de Bens e Serviços Transaccionáveis assegurará a produção de bens e serviços vendáveis ao exterior. Serão tanto mais "rentáveis" quanto produzidos a partir de recursos locais. Esta "venda ao exterior" é que capacitará o acesso da sociedade a (outros) produtos globais, não produzidos localmente. Apenas vendendo o que produzimos poderemos comprar o que queremos consumir.

O Sector de Bens e Serviços Especializados e de Lazer vai garantir a ocupação de uma grande parte da população. Este sector dependerá e será tanto maior quanto maior for a "cama" criada pelos outros dois sectores. Que não poderão deixar de ser constantemente monotorizados e consolidados. A ideia de que este sector (terciário) pode vingar sem aquela "cama" é totalmente ilusória.

Energia.r

NAS NOSSAS CASAS

Na Nova Sociedade, as nossas habitações terão duas redes de distribuição de electricidade. Uma delas é idêntica à actual. A outra estará ligada a um conjunto de baterias que constituirão uma reserva de energia, para consumo diferenciado no tempo, para a própria habitação e, como se verá mais à frente, para a população em geral. A tecnologia evoluirá e essas baterias serão, gradualmente, mais capazes, baratas e de menores dimensões. Esta rede suportará as necessidades básicas da habitação, nomeadamente a iluminação, electrodomésticos e gadgets de mais baixo consumo. Estes últimos, por sua vez, passarão a ser cada vez menos gastadores.

Esta nova rede será abastecida por equipamentos locais (ao nível da habitação) que aproveitam a força do vento, o calor e a luz solar. Mas também por quaisquer outros sistemas autónomos, através de manivelas ou pedais (a bicicleta estática em que se faz o exercício diário). Sem prejuízo do carregamento normal via rede pública (preferencialmente nocturno, fora dos picos, quando há mais energia e mais barata, disponível ).

Esta nova capacidade de retenção de energia terá um papel fundamental na gestão local de produção-consumo. Guardando energia quando ela existe em maior quantidade e é mais barata e disponibilizando-a nos períodos de maior consumo em que as centrais a combustível são chamadas ao processo. Com ganhos correspondentes em termos ambientais e não só. Este é já um papel que se aponta para os cada vez mais próximos (em quantidade) carros eléctricos. Porque não juntar as nossas habitações ao processo?

À medida que as tecnologias de retenção (baterias) e as respectivas trocas energéticas estiverem mais desenvolvidas abre-se uma nova possibilidade dos particulares poderem obter a energia mais barata, produzida em horas de baixa e a reporem no sistema nas horas de ponta. Passando a ser - também - prestadores de serviço de armazenamento energético. 


Isto será possível se (e quando), em simultâneo, o mercado energético adoptar o realismo de custos, o que acontecerá mais tarde ou mais cedo. Quando se libertar das medidas de financiamento de outras e várias actividades que se encerram - mais ou menos escondidas - nas nossas contas ao final do mês.


Tudo isto se precipitará quando os combustíveis fosseis encarecerem ao ritmo do aumento da sua escassez. O que não demorará muito.

Este sector (energia produzida localmente), por ser parte da componente básica da economia da Nova Sociedade deverá escapar, totalmente, à gestão e regras globais. A concorrência ficará de lado e os poderes locais e regionais poderão e deverão apoiar directamente a investigação e a produção próximas. Aqui incluem-se as teconologias referentes às baterias e aos equipamentos que aproveitarão em cada habitação e/ou região, o vento e a luz, mas também, o calor solar, termal e a força das ondas (nas zonas costeiras).

Apesar deste apoio público poder ser semelhante ao actualmente vigente, na aquisição subsidiada da energia produzida, tem uma diferença fundamental: a produção destina-se a consumo local e a possibilidade de armazenamento é determinante, não só para cada um, como para o sistema eléctrico no seu todo. O apoio deverá ser dado directamente (na investigação, através das universidades e daquela que estiver associada à indústria) e indirecto, cobrando apenas a taxa mínima do imposto sobre o valor acrescentado, aquando da sua venda no mercado. A simplificação na tipologia dos apoios a conceder será essencial.

O apoio à investigação deverá ser preferencial nas situações em que se aponte para tecnologias que utilizem recursos e potencializem a produção local. A taxa do valor acrescentado subirá para o valor médio quando a produção for externa.

NA NOSSA CIDADE

Situação semelhante sucederá nos nossos agregados populacionais. Na Nova Sociedade, haverá uma rede específica ligada, em exclusivo, aos equipamentos públicos, determinantes e básicos para garantir a manutenção das condições de vida. Essa “separação de rede” poderá ser concretizada através de contadores “inteligentes”, evitando redes de distribuição paralelas. Numa situação hipotética (mas que terá de ser prevista) que exija uma contenção de consumos, a distribuição seria apontada, em exclusivo, para esses equipamentos (redes de águas e esgotos, hospitais, bombeiros, etc). A distribuição pública poderia ser limitada às noites, permitindo, apenas nesse período, a carga das baterias caseiras e o consumo nas tarefas (energeticamente) mais exigentes.

Este sistema de distribuição abriria uma nova possibilidade de contratação perante o consumidor: o utente optaria pelo fornecimento nocturno a mais baixo custo, assegurando o consumo necessário diurno através da sua reserva pessoal.

A electricidade nocturna passaria a ser taxada (imposto de valor acrescentado) pelo valor mínimo e a diurna pelo valor máximo. Passaria por aqui a política pública de incentivo ao processo. De forma simples e de fácil implementação.

A política pública de apoio à produção de bens e serviços transaccionáveis actuaria também aqui. Não de uma forma activa. Mas como se justifica fazer quando o Estado intervém: a energia seria taxada de forma distinta conforme a sua utilização: para produção de bens e serviços básicos à taxa mínima, para a produção de bens e serviços transaccionáveis à taxa média e nas restantes situações, à taxa máxima.

A Nova Sociedade traz-nos, aqui, um novo paradigma e uma nova forma de gestão das nossas reservas e produção energéticas.

NO NOSSO MUNDO

Todo o progresso conseguido nos últimos 200 anos resultou da inovação tecnológica que permitiu o aproveitamento energética para nosso usufruto, de matérias-primas existentes na natureza. Principalmente o carvão, o petróleo e o gás natural.

O custo (em energia) do nível de vida atingido pelos habitantes dos países desenvolvidos é brutal. Por outro lado, para além do consumo exagerado, as respectivas consequências ambientais estão já comprovadas.

Muitos estudos confirmam que, as reservas que se vão esgotando não são substituídas por novas descobertas da mesma dimensão. O que significa que as disponibilidades mundiais estão em queda e isto num momento em que centenas de milhões de chineses anseiam por atingir os níveis de vida de muitos dos seus compatriotas, nas zonas económicas especiais. Não vão abrandar até o conseguirem. Até porque o sistema político vigente vive e mantém-se com base nessa expectativa.

Haverá menos petróleo e mais procura (para garantir o crescimento dos países em desenvolvimento). O preço subirá gradualmente e as disponibilidades começarão a se reduzir de forma cada vez mais evidente.

Nessa altura, em que a escassez se começar a fazer sentir com mais intensidade, terão acesso simples ao petróleo os países produtores e apenas aqueles que tiverem condições para assegurarem a sua aquisição. Essas condições serão as financeiras (capacidade produtiva e poupanças disponíveis) e … as militares. Muitos outros países poderão ter que ficar a ver os petroleiros a passar…

A verdade é que se o petróleo chegar para 100 anos, o mais certo é que chegue para 150 anos para uns países e apenas para 50 anos para outros. E, mesmo assim, no caso destes últimos, apenas para aqueles que tiverem contrapartidas comerciais (produção de bens e serviços exportáveis) para a troca. Esta diferenciação no acesso à energia será concretizada através do preço - primeiro - e de outros factores - depois. Nomeadamente (e infelizmente) através do poderio económico, estratégico e militar.

Restará o gás natural e o carvão, alargando por mais uns anos a disponibilidade de combustíveis fósseis. Uma solução (carvão) que apenas causará mais problemas ambientais.

A energia nuclear tem os problemas que tem. Mas, face à situação, será uma solução para alguns países. Os riscos não será apenas tecnológicos, mas também de segurança, perante as alterações climáticas, a instabilidade telúrica e os grupos terroristas, que serão cada vez mais eficazes.


Caso se recue na produção energética a partir da energia nuclear, a alternativa será, de novo, mais petróleo. O que colocará os respectivos preços na estratosfera.

A energia hídrica começa a estar em sobre-exploração e não haverá muitas mais possibilidades de aumentar a sua produção sem impactos ambientais significativos.

E assim chegamos às energias renováveis. A mais lógica é o sol (luz e calor), o vento e as ondas. E a energia térmica.

Um dia teremos acesso a viaturas que funcionam a electricidade, com base em baterias muito eficazes e mais pequenas que as actuais. Que recuperam a energia nas travagens e descidas, através dos amortecedores e nas curvas (por via da geração de energia pelo movimento de esferas dentro de cilindros colocados transversalmente). Essas viaturas estarão integralmente cobertas por uma película que transformará a luz e o calor em electricidade.

Infelizmente, nenhumas destas tecnologias são ou serão substitutas dos combustíveis fosseis. Pelo menos em quantidade e tempo úteis.
Nem serão de esperar, durante um período mais ou menos longo, outros substitutos (plenos) para evitar o processo de abrandamento do desenvolvimento (e da recessão nos países desenvolvidos).

As tecnologias actuais de aproveitamento de energias renováveis obrigam à construção de equipamentos que, nesse processo, consomem quase tanta energia quanta aquela que vão “devolver” ao longo da sua vida útil. As vantagens são, no entanto, grandes para quem puder fazer hoje o investimento, garantindo-se para os anos de “vagas magras” que aí virão. Pois os combustíveis gastos hoje, para produzir os equipamentos em questão, produzirão durante a sua vida útil, uma determinada quantidade de energia renovável que substituirá outra que seria (será) muito mais cara se produzida a partir de combustíveis fosseis.


É neste ponto de vista que os EUA estão a investir, em grande, na matéria. Constroem hoje e limitam o seu consumo amanhã. Se o fizerem tendo como base o investimento estrangeiro... ainda melhor. Para eles e para os investidores. Apesar de não forçosamente bom para os países onde o capital se origina.


Por outro lado, ficam do lado das indústrias, os impactos ambientais. Os países que colocarem esses equipamentos produtores de energia limpa “exportam”, para os países que têm as industrias, a poluição resultante das suas fábricas.

É certo que as tecnologias têm evoluído e vão continuar a evoluir. Mas há limites óbvios e perceptíveis. O que nos levará, claramente, à conclusão que a Nova Sociedade terá que gerir uma redução gradual, mas significativa, das disponibilidades energéticas.

Com o maior impacto a recair nos países desenvolvidos, muito maiores consumidores que produtores.