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Desenvolvimento = uma palavra-chave nas últimas dezenas de anos.
Crescimento = outro pressuposto fundamental. 

A recessão é o "terror" dos economistas (são quase todos) que se sustentam num modelo de crescimento constante, ou quase constante, pois pode ser interrompido, pontualmente, por uma qualquer crise ou ajuste, mas que logo volta a inflectir positivamente.

Infelizmente, nada pode crescer indefinidamente. 

O planeta Terra (e o seu ambiente) tem limites e a população humana não se pode multiplicar sem que a riqueza disponível para cada habitante se reduza. Até porque as matérias-primas são esgotáveis ou cada vez mais caras, pela dificuldade crescente de extracção (sendo relevante o caso dos combustíveis fosseis).

Poderá haver mais desenvolvimento, sem crescimento?

Nos parâmetros actuais e nos países desenvolvidos, dificilmente. O modelo de desenvolvimento económico actual está centrado e depende, em exclusivo, do crescimento constante. Que é sustentado na filosofia do esquema de Ponzi, piramidal.

Numa Nova Sociedade, teremos que encontrar uma solução para que a resposta para aquela questão possa ser sim. Caso contrário, não haverá fim para a roda livres do endividamento.

A globalização fez descolar o capital para a “nuvem”. Onde actualmente está, baseado em inúmeras praças financeiras, centros internacionais de negócios ou num qualquer off-shore. As empresas seguiram o capital. E também passaram a estar nessa nuvem. Deixaram de ser empresas multinacionais e passaram a ser empresas sem nacionalidade e localização física, acabando por se materializar, conforme as circunstâncias e de forma volátil, em qualquer parte do Mundo.  Onde a oferta laboral seja mais eficaz (e barata), onde o capital está (disponível), onde os impostos são inferiores, onde a justiça funciona, onde sabem que podem sair com a facilidade que entraram. Em resumo, onde a  análise simples de custo/qualidade as conduzem. Nessa deslocalização levam (muito) trabalho. Nessa materialização trazem esse trabalho.

Os empregos criados por esse trabalho, (por agora) sem grandes necessidades formativas associadas (manufactura) saíram, definitivamente, dos países desenvolvidos. E não voltarão tão cedoAs fabricas deslocalizaram-se para os países emergentes, “em desenvolvimento”, onde aquelas empresas globais encontraram as respostas e contrapartidas que necessitavam: mão-de-obra barata, mas também segurança para o seu investimento, fiscalidade razoável, justiça rápida e, não menos importante, liberdade de entrada e saída de capitais e investimento (o abre-fecha das fábricas) assegurando a concretização de investimentos rentáveis, de forma fluída.

A CHINA

A China é, actualmente, a melhor resposta aos investidores globais. Por razões “duras” para muitos, que se dirão “politicamente incorrectas”, nos países ocidentais.

A sua política interna, por se basear numa ditadura de partido único, foi a de criar, dentro do País, zonas económicas especiais, limitadas e restritas, de enorme “aquecimento” económico. Aí, criou condições ímpares para o desenvolvimento e atracção do capital, impossíveis num país democrático onde a igualdade de tratamento das populações é uma exigência básica e onde as opções e decisões são determinadas por processos democráticos, que exigem consultas e/ou definições programáticas que determinam maiorias eleitorais que elegem (por vezes indirectamente) os executivos.

Dessa forma, manteve enormes desigualdades entre zonas distintas do seu território, assegurando, internamente os dois “pólos” de aquecimento económico (de hiper-desenvolvimento e sub-desenvolvimento) que são a condição necessária para que o capital circule e o crescimento aconteça. Uma parte da sua população vive como em qualquer país desenvolvido, a outra respeita à mão-se-obra barata (uma parte já activa, nas fábricas, outra, como "reserva", ainda nos campos e zonas rurais mais remotas).

Assim, distinguem-se claramente os países em desenvolvimento (sob um regime democrático ou sob um regime não democrático).

O JAPÃO

O Japão já vive em estagnação há muitos anos. Isso deve-se ao facto do seu desenvolvimento ter atingido (nos anos 70 e 80 do século passado) “aquecimentos elevados”, tendo transformado o seu território, no seu todo, num “pólo positivo” que procurou, mais tarde, os países vizinhos para situar o seu (necessário) “pólo negativo”.

Sequencialmente, as suas empresas, antes locais, globalizaram-se e levaram o trabalho para esses países vizinhos (e não só) criando um estado de “dormência” interna que, mesmo assim, é ainda a primeira fase do início da queda. Neste momento, o Japão está estagnado mas não ainda na fase do “ajustamento em queda”, devido a enormes investimentos públicos com base em dívida pública suportado por poupança interna. Facto este que vai adiando a recessão e salvaguardando o país de quedas económicas maiores e mais bruscas.

O Japão é um caso de estudo para os outros países desenvolvidos. Apenas porque os precede no processo de transição. Mas a “decalage” vai-se reduzindo rapidamente. E essa rapidez pode ser negativamente determinante pois muitos países Europeus e os EUA, ao contrário do que tem feito o Japão, vêm suportando o seu crescimento em défices e cada vez maior dívida pública assegurada por capitais externos

Claro que, mesmo assim, o facto do Japão utilizar poupança interna para suportar a dívida pública não evitará a queda da riqueza disponível, mas tão só permitirá que o processo de adaptação se faça internamente e não de uma forma, provavelmente mais dura, imposta pelos credores. O que poderá acontecer nos EUA e na Europa, nomeadamente nos países mais endividados.

Acontecimentos e acidentes ambientais de larga escala no Japão (terremoto, maremoto e crise nuclear) poderão precipitar tudo. E obrigar ao "regresso" de muita poupança e investimento colocado no exterior (EUA?) a fim de sustentar a recuperação agora necessária. Mas não só, pois esse investimento, no exterior poderá se relevar necessário, mais cedo do que o previsto, para enfrentar o problema do endividamento público.

OUTROS CASOS

Os países Europeus e os EUA conseguiram - por agora - adiar a estagnação "Japão", por conta do facto dos seus vizinhos (menos desenvolvidos) ainda não terem reunido (vão agora conseguindo isso) as condições estruturais para serem os pólos negativos dos processos globais de desenvolvimento, para as empresas (ainda) locais nos EUA (México) e Europa (de Leste). Mas isto não dura para sempre...

E não só: esses blocos económicos (os maiores do Mundo, com a China) apenas não estagnaram já porque começaram a garantir a manutenção do seu crescimento (taxas  anémicas) com base em acréscimos de dívida gerados pelos défices que passaram a ser estruturais. Ironicamente (no caso dos EUA), esses recursos financeiros vieram, numa grande parte do "estagnado" Japão (outra grande parte, da China) via investimento em títulos de dívida pública e através da compra de dólares (fabricados pelo FED).

Ou seja, a dívida pública e externa aumenta a ritmos elevadíssimos (7 ou 8% do valor do PIB) e a economia "cresce" apenas 1 ou 2%...

A globalização e a abertura de mais canais de relação comercial, de mais e melhores sistemas de transporte global (aproximação aos produtores asiáticos), a melhoria das condições de segurança para os capitais e para os investimentos em alguns países do bloco de leste europeu veio trazer o problema japonês para a Europa.

Nos EUA, os défices orçamentais públicos, o endividamento das empresas e dos particulares são, em grande parte, financiados pelo exterior. E a ideia entranhada da "defesa intransigente  da "forma de vida americana", do crescimento baseada no consumo, desprotege a Nação que, cada vez mais, consome externo

E isto com Obama eleito e reeleito pela maioria da população subsidiada sob a promessa de mais Estado Social socialista que se quer parecido ou tendencialmente parecido com o usufruído na Europa. Onde o mesmo está a definhar ou a fazer definhar as economias.

O risco nos EUA é gigantesco. A economia poderá cair de um momento para outro pelas mesmas razões que afligem alguns Países europeus periféricos que, simplesmente, gastam mais do que produzem. 

Mas a dimensão dos EUA é outra pelo que, também, as consequências que daí poderão advir. Vivem sobre "almofadas" financeiras - recursos externos emprestados - que, se são retiradas (ou reduzidas) criarão um problema monumental. Essas duas almofadas (investimentos japoneses e chineses em títulos de dívida americana) são dois pilares que, se falham, no refinanciamento da dívida americana (nem falando no financiamento do défice que será crescente com mais estado social), "entornarão o caldo". A situação interna japonesa, criada pelas crises ambientais e nucleares, poderá dar o mote. Os recursos investidos nos EUA, poderão estar de volta ao Japão...

Alheios a esta situação ou seja, ao problema de poder não haver - um dia - dinheiro externo disponível para suportar o funcionamento básico da Nação, nos EUA, a luta democrata face aos republicamos recrudesce cada vez que se torna necessária uma nova autorização do congresso para aumentar os limites da dívida...

Na Europa, a questão será mesmo o peso do Estado e do seu modelo de Estado Social. Onde, em muitos países, o nível de vida que é assegurado à população, via distribuição (socialista) de rendimentos e serviços suportados por recursos públicos inexistentes (logo, emprestados), muito para além das possibilidades nacionais. A rigidez e o peso que o Estado e o Social têm na economia estão literalmente a levar muitos dos países europeus ao fundo.

ALEMANHA

A Alemanha é o colosso económico que se conhece na Europa.
É aquele que mais irá resistir à mudança global. Que cairá mais tarde...
Por essa razão ganhará a liderança junto aos seus companheiros europeus nestes anos finais do modelo vigente.

O modelo alemão é simples e baseia-se na organização interna, na poupança e na produção.

Mas também nos recursos financeiros oriundos dos estados vizinhos, à procura de um país-refugio para as respectivas poupanças e aplicações financeiras. O que origina liquidez e recursos financeiros disponíveis para a sua economia, à farta...

Os seus bancos, com esses recursos (que só procuram a segurança) a taxas negativas, multiplicam-se em negócios extorsionistas e muito lucrativos. E a economia pode prosperar, com as empresas com acesso fácil e barato a muita liquidez...

Mas, e há sempre um mas nestas situações, os excedentes comerciais que equilibram orçamentos e impulsionam economias dependem sempre do despesismo de outros. Só há excedentes na exacta medida dos défices de outrém...

E que, neste caso serão os dos seus parceiros comerciais "mal comportados" que desaparecerão num ápice face à nova leva de políticas "austeristas". O que colocará problemas à economia alemã, "bem comportada".

A produção alemã, que voltou a bater recordes, é actualmente garantida pelos emigrantes, principalmente muçulmanos. É desta forma que a Alemanha, internamente, assegura os fluxos económicos necessários para que a produção se mantenha no país e que, por isso, a riqueza não escape. Em paralelo com alguma deslocalização interna (Oeste>Leste, na ressaca da unificação do país) e com os vizinhos ex-comunistas que por alguns anos, lhes oferecem os pólos negativos necessários (mão de obra mais barata para a produção que controlam) para que se criem aqueles fluxos.

A verdade é que os emigrantes aceitam e asseguram (internamente) o trabalho industrial (por agora a baixos custos) mantendo a riqueza (ou seja o trabalho) no país. E é essa retenção local da produção que tem "segurado" o país.

Mas isto até quando? E com que consequências culturais?

A segunda geração de emigrantes, já integrada economicamente, mas muito menos culturalmente e com (outra) educação/formação de base, quererá os (outros) empregos, de maior remuneração e status social, que se sustentam na produção que ainda se mantém no país, assegurada pelos seus pais, potenciada pela organização, gestão e inovação germânicas e de reconhecida qualidade.

Problemas de violência urbana de origem racial (mesmo que não se queira admitir como tal) como os sucedidos em França (2005) e Inglaterra (2011) poderão acontecer em qualquer local. Casos de terrorismo inverso (contra os emigrantes) acontecerão cada vez mais. Sem salvaguardar país nenhum. Logo ficará muito claro que não bastará atribuir meios e financiamentos sociais para "aguentar" e entreter aqueles grupos de jovens de 2ª geração. Esse grupo não quererá nada menos do que usufruem os restantes grupos populacionais locais. Já não ficarão satisfeitos com os empregos dos seus pais. Nem nada que se lhe pareça...

Será um problema social e racional que se juntará ao geracional.

AS EXCEPÇÕES

Salvaguardam-se do desastre económico os países que tiverem recursos naturais, poupança e uma gestão pública (da riqueza produzida e disponível) séria e sustentada. A existência de poupanças internas - nesses países - dará segurança aos credores que, por isso, estarão disponíveis para emprestar e financiar (o que e se for necessário) a baixos custos. É mais do que evidente que a poupança interna e uma gestão pública séria são as condições fundamentais para um financiamento externo a baixos custos

Até porque haverá sempre capital disponível, que terá que ir para algum lado… para ser remunerado.

Mas nem nestes países se deixará de sentir o efeito dos novos tempos. A riqueza disponível motivará as populações a elegerem e manterem governos socialistas no poder. Que exercerão as suas funções distributivas com sapiência. Mas também abrirão a sociedade a mão-de-obra externa que ocuparão os lugares de trabalho e funções menos apetecíveis e desprestigiadas da economia. Ora, também esses emigrantes terão 2ªs gerações para os quais já não será satisfatório esse destino...

Em Oslo (o sítio menos previsível possível, numa Noruega recém-rica pelo petróleo que explora) um louco (na acção) foi visionário no que respeita a um possível futuro do seu país... e atacou a geração socialista que entendeu se estar a preparar para avançar com a desculturização do país ao aceitar desregradamente a inserção de estrangeiros que, acredita ele, iria levar a sua sociedade ao caos...

SITUAÇÃO GLOBAL

Assim, claramente, há um país em crescendo. Que é a China. Que valoriza e explora a sua maior vantagem que será não ser uma democracia

Apesar de politicamente incorrecta, esta é a sua maior vantagem. E estará a conseguir passar, internamente a mensagem que é justificavel (pelo seu sucesso global) a manutenção do seu sistema. Se assim se mantiver, o país vai crescer - à custa do arrefecimento económico do resto do Mundo - e a riqueza virá, chegando, gradualmente a mais e mais chineses…

Talvez seja por reconhecer essa vantagem que o Ocidente tanto luta pela democratização da China. Porque sabe que isso iria refrear o seu crescimento, com óbvias vantagens para si (ocidente) no estancar da hemorragia económica actual. No entanto, com cada vez mais dívidas soberanas dependentes do investimento chinês, as pressões mitigam-se. Cada vez mais...

Há outros países que crescem com as mesmas bases, mas, sendo democracias (com características próprias), terão crescimentos a ritmos muito inferiores. Nomeadamente, a Índia.

Outros ainda, que manterão um crescimento sustentado, mas à custa de recursos naturais. O que fazem hoje, com este pico de riqueza (que se esgotará a prazo) determinará o seu futuro. Uns, capitalizam e investem no futuro (Noruega). Noutros (alguns países da América Latina) as elites dirigentes desbaratam na “compra” de votos, remunerando, sem contrapartidas de desenvolvimento futuro, as classes mais desfavorecidas garantindo a sua manutenção no poder.

Restam alguns países, não estruturados (nomeadamente em África), que continuarão pobres até que se inicie uma nova fase de colonialismo. Até que sejam eles apenas os que restam como possíveis futuros “pólos negativos” para os processos de desenvolvimento futuro. Aí, os capitais poderão ser apontados para eles e chegará a sua vez.

No final, o equilíbrio mundial e global será atingido. E, de uma forma contraditória, os objectivos marxistas serão atingidos... pela via capitalista.

Entretanto, os países muçulmanos terão que gerir, com dificuldades, as suas características culturais que impedem - por si só - o desenvolvimento sócio-económico que atingirá todo o resto do mundo. Pelo que poderão ter que lutar, no verdadeiro termo da palavra, para sobreviverem.

Aparecerão países sequestradores. Que procurarão meios (bélicos e outros – terrorismo) para ameaçar os vizinhos em troca da satisfação das suas necessidades básicas. 

Para tudo isto, a Nova Sociedade deverá procurar uma resposta.

A TRANSIÇÂO

Os países desenvolvidos, iniciarão uma fase de transição para a Nova Sociedade. De uma forma mais ou menos forçada (pela rotura). E, mais uma vez, cada um à sua maneira. Porque, quer queiram quer não queiram, mais cedo ou mais tarde, haverá sempre uma perda que terá de ser gerida. Assim, terão que:

1)Assegurar níveis de produção básicos o mais localmente possível.
2)Adaptar as suas despesas à produção (e a importação à exportação).
3)Gerir esta mudança o mais tranquilamente possível, através de uma “almofada” constituída por poupança.
4)Eliminar toda a gestão em deficit. Que passará a ser impossível constitucionalmente.
5)Assegurar, assim, a redução gradual do endividamento externo que possa existir, de forma a se manter activo (e não isolado) no mercado global de bens, serviços e recursos financeiros.
6)Habituar a população à noção de que haverá uma quebra de rendimento, riqueza e qualidade de vida incontornável. Que deve ser gerida de forma socialmente equilibrada, com consequências mitigadas. Evitando roturas que poderão ser muito mais prejudiciais.
7)Procurar as estratégias necessárias para que a quebra de rendimento possa ser gerida sem prejuízo do desenvolvimento. O que obriga a um novo paradigma económico. O que obriga a uma Nova Sociedade.

Curiosamente, neste Mundo globalizado, os países dependerão muito uns dos outros. Os que se desenvolvem (e que produzem) dependerão dos desenvolvidos, consumidores daquilo que produzem. Os países desenvolvidos, consumidores, passarão a depender dos capitais que se libertam nos países em desenvolvimento, onde estará o trabalho, materializado pelas empresas e capitais da "nuvem". 

Estes capitais actuarão, em força, como almofadas sustentadoras na base financeira (dívida pública) dos países desenvolvidos, concretizando uma mudança de poder real destes países para os que deterão a produção. 

Nenhum dos três grupos (nuvem, produtores, consumidores) poderá subsistir sem os restantes. O que criará um clima de alguma "guerra fria". Se as relações comerciais e circulação de capitais foram libertos na globalização, as moedas e o factor cambial será o próximo campo de batalha. A nova "guerra fria" será uma luta de câmbios. Mas mais uma vez, será apenas um protelamento das medidas estruturais que urgem. Os equilíbrios locais terão de ser procurados nos fundamentos económicos (e sociais) e só assim, no final, poderá haver um fim feliz.

Numa Nova Sociedade.

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