Gerações.r

A transição da actual para a Nova Sociedade trará alguns conflitos. Como é de esperar num processo em que a queda do nível de vida médio será uma realidade com que teremos de conviver.

O primeiro efeito virá da queda da economia e do emprego, por razões já descritas. Economia em queda regular e persistente significará menos rendimento disponível, maiores dificuldades de satisfação de compromissos (financeiros externos) assumidos.

A primeira reacção virá do grupo que primeiro sentirá o problema. Ou sejam, as novas gerações. Quando os jovens, bem formados, procurarem aceder ao mercado de trabalho, não vão encontrar respostas. E se o conseguirem, serão empregos parciais, precários e mal pagos, bem abaixo das expectativas criadas, que resultam da simples observação do mundo em que viveram a sua infância.

Expectativas também criadas pelo crescimento da observação (cada vez mais) da sociedade envolvente. Do que vêm na televisão (filmes e séries em ambientes glamorosos) e do que viram estar disponível para os seus pais…

E é aqui que tudo se choca.
E é aqui que se passa a confundir o problema com um conflito de gerações.
Este conflito não existe. Pelo contrário, todos querem exactamente a mesma coisa. Uns pretendem manter a situação (a geração mais antiga), os outros querem atingir e usufruir dos mesmíssimos benefícios que viram se tornar usuais para os mais velhos.

Infelizmente, isso não chega para todos. E chegará a cada vez menos. 

Nos países desenvolvidos, a Economia está em queda e a situação que beneficia (beneficiou) a geração mais velha foi – em muitos casos – possível e potenciada por um Estado Social que deu para além do que tinha e podia. Originando défices sucessivos e dívida acumulada que, depois, acaba por ter de ser - sempre - paga. Quer de uma forma consciente, auto-sustentada, quer da pior forma, sob imposição - dura - dos credores.

Concretizar esse pagamento numa fase em que a economia estará em retracção (não pontual, mas persistente) não se afigura fácil.

Facilmente encontraremos as duas partes - que estariam em aparente conflito - de acordo. Ambos estarão na rua a defender a estabilidade, o emprego seguro e as boas remunerações. Nada de anormal.

Mas, como isso não chegará para todos, teremos o caldo entornado.
E nada se resolve quando a luta, nas ruas, é pela não mudança.

Quando o que passará a ser necessário é, efectivamente, a mudança
Para uma Nova Sociedade que aprenderá a viver com menos. No mínimo, com o que produz. Independentemente que uns países, menos precavidos e mais iludidos (por socialismos e idealismos) tenham, por uns tempos, que viver com o que produzem, menos o que terão de pagar por conta de opções egoístas da geração anterior que decidiu, nos últimos decénios, para si (e contra os seus filhos e netos).

Outros Países desenvolvidos, poderão ter uma transição mais tranquila, desde que consigam interiorizar (governantes e cidadãos) que, a partir deste momento, nada voltará a ser igual. Que o modelo de crescimento já não voltará e que, agora, será necessário “aterrar” de forma consciente  controlada e pragmática.

Porque parece isto um conflito de gerações?

Porque há, realmente um elástico que esticou e se vai partir.
E, porque, nessa rotura, de um lado ficou uma geração (a grisalha), e do outro, outra geração (a mais jovem).

A geração do passado, que manda (e mandou) definiu e fincou-se em direitos “adquiridos”.
Agora, fala no fim de tudo isso. Mas, ao definir as mudanças necessárias, apenas as desenha para os que vêm a seguir…

É esta posição que não é concebível, até porque esses direitos “adquiridos” – para si - custam bem mais do que aquilo que efectivamente produziram.

Mas também não é realista a posição da geração jovem. Que não “ataca” os direitos “adquiridos” pela geração grisalha, apenas porque também os quer…

E nisto, todos remam para o mesmo lado, infelizmente, em direcção à queda de água

De forma alguma podemos inferir que não haverá muitos “grisalhos” que merecem o que ganham. Haverá. Assim como haverá muitos “jovens” que merecerão bem para além do que ganhavam os seus pais. A Nova Sociedade, que se seguirá, deverá ser capaz de estabelecer diferenças que premiarão os melhores (mas não apenas os mais calculistas). 

Deverá conseguir defender (e valorizar) as elites, pois dependerá, fundamente delas, para criar a alavancagem socioeconómica que é necessária. Sem prejuízo de ficar assegurado um Suporte Social para todos os que não poderão entrar no processo produtivo.

Na Nova Sociedade, o modelo ajusta-se a outra lógica, muito mais sustentável: o Suporte Social que é a prestação social única que se ajustará (financeiramente) e anualmente, à capacidade de intervenção social do País. Não vai além do que é possível e retrai-se sempre que a economia e a capacidade de produção de riqueza da sociedade reduz. Assim que poderá crescer, aumentando a capacidade de intervenção social, sempre que o País cria mais riqueza.

O Trabalho será apenas para alguns. Simplesmente porque não chegará para todos. Terá de ser direccionado para os mais capazes e não ficar restringido a quem já o tem. Sendo o Suporte Social uma prestação generalizada, o rendimento do trabalho passa a ser muito mais valioso do que é actualmente, competindo, injustamente com as prestações sociais, com evidentes (maus) resultados para a economia em geral.

Na transição para a Nova Sociedade, todos seremos obrigados, de uma forma ou de outra, a nos ajustarmos. Uns cedendo, outros reduzindo expectativas. E não devem todos, entender que este é um cenário catastrofista. É apenas um cenário realista que, se assumido e enfrentado, poderá conduzir a uma sociedade mais justa e feliz. Que é o que se pretende.

Muito pior que enfrentar uma situação conhecida é manter expectativas impossíveis. Na primeira abordagem, vamos com os pés no chão. Na segunda, caímos bem fundo, pela certa, e de bem alto…

Conclusão

A geração grisalha entenderá que terá que prescindir de direitos (ilegitimamente adquiridos), baixar os seus níveis de reforma e abrir o mercado de trabalho a quem realmente esteja em melhores condições para produzir. A geração jovem está disponível e formada para produzir o mesmo, por menos remuneração. A geração grisalha não poderá contar com aumentos das suas idades de reforma para garantir (as anteriormente dadas como direitos e possíveis) reformas impossíveis. Residindo aqui um dos erros mais cometidos actualmente: o aumento das idades de reforma apenas joga em favor da geração grisalha, na garantia da manutenção dos referidos benefícios sociais bem superiores ao que descontaram ao longo da sua vida laboral.

Nesta mudança, a geração jovem terá que reduzir expectativas. Ajustando-as à realidade. Mas, para que o processo não seja brutal e não seja unilateral, terá que contar com a solidariedade da geração grisalha. E isso não poderá passar simplesmente por manter o quarto na casa dos pais que se fixam nos (já referidos) seus “direitos” adquiridos. Nem pela criação de programas de estágios e entretenimentos desse tipo, para encher e enganar... 

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