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Na Nova Sociedade, gradualmente, haverá menos trabalho disponível. Pelo que passará a ser um bem cada vez mais valioso.

A distribuição do (cada vez menos) trabalho disponível terá de ser um processo rigoroso e constituirá o maior desafio para as sociedades em renovação.

As economias desenvolvidas já pouco ou nada crescem. E quando isso acontece, é à conta de (geralmente grandes) financiamentos externos. Que - vai-se descobrindo em alguns países - um dia se pagam... 

Infelizmente, mesmo numa economia em crescimento, não são criados novos empregos. Pior acontece nas economias em recessão e/ou em processo de ajustes orçamentais.

As razões são simples: a economia cresce em áreas em que o emprego não é determinante (pela introdução de novas tecnologias); e em áreas e sectores onde a concorrência só garante a subsistência das organizações bem geridas e que são capazes de produzir bens transaccionáveis (cada vez mais raros nos países desenvolvidos), ou seja, onde é possível evitar a deslocalização de fábricas inteiras; e nas áreas onde se garantem aumentos da produtividade, por vezes à conta de downsizings.

A industria vai sendo deslocalizada para os países em desenvolvimento onde ainda existem grandes massas populacionais, com rendimentos muito distantes das médias "ocidentais". Este grupo populacional, ainda muito numeroso, porque ainda ganha pouco do ponto de vista ocidental, assegura o trabalho a baixo custo, necessário para a disponibilização de inúmeros equipamentos e bens transacionaveis que chegam às lojas ocidentais a custos "impossíveis" para uma produção local.

No sector primário, globalizado, foram concentradas demasiadas produções (nomeadamente agrícolas) em zonas (só) aparentemente ideais. E desertificou muitas outras. Qualquer problema climático, catástrofe ambiental, rotura política ou social nas zonas em questão, originam aumentos de preços significativos nos mercados mundiais de matérias primas. Nada que já não vamos vendo acontecer, aqui e ali.

A verdade é que nos países desenvolvidos, já não há trabalho que chegue para todos. E a situação tende-se a agravar. Naturalmente.

Neste processo, são cada vez mais a viver de subsídios e cada vez menos a pagar impostos e as contribuições sociais.


A sociedade desequilibra-se e tendem a aparecer os indignados e a crescer as gerações jovens desempregadas. A insegurança cresce.


A solução passa por um processo de redistribuição do trabalho.
Como evoluir para a Nova Sociedade de forma equilibrada e sem roturas?

1)Imigração e Jovens desempregados, também no centro e norte europeu

Curiosamente, perante o actual clima económico e social global, algumas sociedades do centro e norte da Europa continuam a promover a emigração. Dando sustento às suas necessidades de ocupação de postos de trabalho de nível inferior e mal pagos, nas suas fábricas Ou seja, para ocupar os empregos que a população local já não aceita.

Numa próxima fase, as origens da emigração actual, para o centro da Europa mudarão. Do Oriente para o Sul. Fugindo às fortes alterações culturais e religiosas que as actuais fontes de imigração trazem para esses países e aproveitando os problemas internos dos países do Sul da Europa, incapazes de atraírem, para si, o investimento e o trabalho que, por agora, ainda existe no Centro e Norte europeu. Menos muçulmanos, mais europeus do sul, será a nova política mais ou menos encapotada. 

Para que isto seja possível, vamos assistir a uma política que, não considerando esta finalidade, poderá parecer estranha, com austeridade cega, redução de rendimentos e políticas que promoverão o desemprego.

Mas são estes empregos, deslocalizados, que vão garantir o crescimento económico (apesar de mínimo) nestas sociedades desenvolvidas.

Mas, até quando?
Não durará muito. Afinal, os jovens locais, acumulam-se, também, nas bolsas de desemprego. Nem chegam aos lugares ocupados pela geração dos seus pais, nem assumem os empregos menos atractivos ocupados pelos imigrantes.

Os deficits orçamentais, mesmo que baixos, fazem sempre crescer as dívidas públicas. Os financiamentos externos continuam, até porque estes países (e os seus bancos) são o “refúgio” menos mau para os investidores (muitos dos países secos de liquidez). A verdade é que até se paga para colocar dinheiro na Alemanha.

Os emigrantes não poderão entrar indefinidamente e, os mais antigos, já criaram segundas gerações, integradas (não voltam para os países de origem dos pais) mas desintegrados pois não trabalham e não aceitarão os empregos mal pagos dos seus pais. E veremos a sua acumulação, nas bolsas de desempregados, sem acesso ao mercado de trabalho. Que por sua vez, se fecha ainda mais, com o aumento das idades de reforma, decisões tomadas esgoísticamente  na salvaguarda das reformas dessas gerações grisalhas.

Os estágios, os primeiros empregos precaríssimos suportados pela segurança social e o alargamento dos tempos de formação não serão remédio ocupacional por muito tempo, para estes jovens. Que, altamente formados mas sem respostas, serão socialmente contidos com muita dificuldade. A indignação nas ruas começará a ser justificada...

2.Reformas adiadas

O financiamento da Segurança Social e dos Sistemas de Pensões públicos, pagos pelos contribuintes activos estão em queda rápida. O que não é inesperado, nesta evolução social global a que assistimos. Ajudada pela baixa da demografia e pelo aumento da esperança de vida.

Infelizmente, a reacção dos governos é contraditória. Sabendo quais as gerações determinantes nos processos eleitorais tomam medidas na defesa dos seus interesses. A geração grisalha decidiu para si, quando mandou e agora, mantém o controlo pois é a maioria determinante nas eleições democráticas.

Recentemente, decidiram aumentar a idade mínima das suas reformas. Mas como? Deverão questionar os jovens sem emprego...

A decisão, apesar de poder parecer de alguma “bondade” social não tem outro objectivo que não a egoísta “defesa” das pensões de reforma . A outra “face da moeda” são as gerações mais jovens. Que assim, ficam por mais uns anos, arredadas do mercado de trabalho.

Mantendo-se estas opções, validadas pela democracia eleitoral vigente, como reagirão os jovens?

Em Espanha, no início de 2011 o desemprego superou os 20% sendo que a taxa referente aos jovens abaixo dos 30 anos é de 50%. Se a democracia e os governos legitimamente eleitos pela geração grisalha, na defesa do “status quo”, não são solução para melhores decisões de futuro, a rua poderá ser o caminho. Doloroso…

3.Ajudas públicas à contratação

Entretanto, de forma muito socialista, vão se implementando, de forma avulsa, “remédios” e remedeios.

Criam-se programas de ajuda públicas à contratação, ou seja, mais despesa pública (défice e dívida) para manter entretidos os desempregados e os jovens. Em formação, estágios e experiências. Nada de concreto e estruturante. Tudo volátil.

Desta forma, entretêm alguns e “mascaram” os verdadeiros números do desemprego, principalmente o que tem origem na geração mais jovem…

4.Facilidade de despedimentos

São implementadas medidas facilitadoras dos despedimentos. Por natureza, boas decisões. Mas, de uma forma avulsa e aplicável, muitas vezes, apenas aos novos contratos. Mais uma vez, contra as novas gerações. Pois os antigos contratos, nas mãos da geração “grisalha”, mantêm a segurança original.

5.Novas gerações sem trabalho

As novas gerações terão pouco ou nenhum trabalho. Porque assim será devido a motivos externos às nações (são razões globais) mas também porque as gerações que decidem hoje (as grisalhas) se defenderão no referente aos seus privilégios.

6.Na Nova Sociedade

Tudo isto terá de mudar.
Terá de ser criado mais trabalho, revitalizando o sector primário e investindo nas energias renováveis.
A indústria, principalmente de bens transaccionáveis, terá de ser dinamizada.
O trabalho será redistribuído e melhor atribuído.
As regras no que se refere à troca de trabalhadores (um menos apto, por outro, com mais formação, até aí desempregado) deverá ser diferenciada da situação de eliminação simples de um emprego.
O sistema social de apoio, mudado.
A fiscalidade simplificada.
Os governos restringidos na sua acção, penalizadora do futuro.
A democracia e legitimidade eleitoral, repensadas.

7.Como fazer


Para mobilizar mais gente para a reconstrução (refundação) do País; 
Para ocupar os jovens; 
Para renovar a força de trabalho, 
Para fugir à desestruturação social 

Urge dividir melhor o trabalho disponível. 
Sem prejuízo de procurarmos mais trabalho, produção e riqueza.

A realidade presente é que temos - mesmo - menos trabalho. Pelas razões acima indicadas e porque, naturalmente, acedemos a cada vez mais instrumentos (computadores, máquinas) que facilitam e reduzem a necessidade do trabalho humano para atingir a mesma produção.

A intuição apontaria para que a sociedade evoluísse para a manutenção do rendimento contra … menos horas de trabalho para cada um (melhor qualidade de vida).

Mas não. A jornada de trabalho foi-se mantendo (ou até crescendo) com aumentos regulares de rendimentos. O problema colocou-se quando se esgota a capacidade de crescimento. Pior, quando o sentido até é descendente...

Mais uma vez, e isto todos entendem, havendo menos trabalho, haverá menos emprego (e mais desemprego) se a jornada diária de trabalho não cair.

As políticas actuais, estranhamente, seguem pelo caminho inverso: mais horas de trabalho diárias, menos feriados, menos férias, reformas mais tardias. Tudo ao contrário.

O caminho correto passaria pela introdução da possibilidade de todos os empregadores, sem excepção, incluindo o Estado, poderem ajustar a jornada de trabalho para menos (e nunca para mais) horas, com uma redução remuneratória proporcional…

Esta redução do tempo (e da remuneração) de trabalho – que pode ser de decisão unilateral do empregador,  para todos os que ganham acima dos 120% do salário mínimo e até as 6 horas diárias – teria um cariz provisório/definitivo (logo se veria) e teria dois objectivos:

a)Ajustar os custos fixos da empresa à queda do “negócio” (face ao arrefecimento económico) evitando a insustentabilidade, a falência e o desemprego.

b)Permitir a renovação (em 25%) da força de trabalho das empresas em laboração máxima (uma opção do empresário), aumentando o número de empregados e reduzindo o trabalho (e rendimento) de cada um. Três turnos de 8 horas passam a 4 turnos de 6 horas. Mais 33% de emprego, sem custos acrescidos.

O empresário pode manter a jornada para os bons trabalhadores e ajustar apenas as jornadas dos restantes (valorizando o mérito). Pode renovar a sua força de trabalho juntando jovens em primeiro emprego.

Desta forma, a taxa de desemprego cairia de 18% para 5% e teríamos muitos mais a pagar impostos e menos a subsistir através da Segurança Social.

Sem falar da estabilização social que se conseguiria. Nomeadamente, sossegando os jovens, os mais injustiçados neste processo. E reduzindo a sangria da imigração que, para um país, não é mais do que o futuro a sair porta fora...

Este procedimento é ajustável e aplicável ao Estado. Que assim, poderia reduzir as suas “gorduras” sem criar desemprego.

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