Crise.r

Em 2008 rebentou uma crise financeira nos EUA que, rapidamente, se repercutiu para uma grande parte do Mundo desenvolvido.

O que se passou?

Nessa altura, um grupo de financeiros, antecipando o início do fim das suas actividades, tal como até ali se processavam, com grandes lucros, resolveram dar um “golpe final”. Tipo "rapar a panela" do que pudesse restar. As suas funções, à altura, passavam por conceder empréstimos e vender os contratos resultantes a investidores.

Nos EUA, o endividamento estava no limite. Todos os créditos (e mais alguns) estavam atribuídos. Esse negócio estava esgotado e próximo do fim. Estava? Não.

Ainda restava uma determinada fatia da população por explorar. Trataram, então, de alargar o universo usual de consumidores, emprestando a “torto e a direito” a famílias que, sabiam-no bem, pagariam pouco mais do que meia dúzia das prestações contratadas. Por pouco, nesse grupo, não incluíram os “homeless”.

Feito o “serviço”, pegaram naqueles contratos, juntaram-nos com outros, um pouco melhores e fizeram pacotes que foram alindados com “ratings” (avaliações) positivas por parte de empresas especializadas. Juntaram-lhes, como garantias, as hipotecas desses bens, na sua maioria, habitações super-valorizadas, num mercado em alta, face à procura gerada por todos estes “novos” clientes e interessados.

E venderam esses pacotes a quem tinha dinheiro para investir…
Com essa venda, receberam chorudas e multimilionárias comissões. Fizeram o seu trabalho e reformaram-se ricos.

O que correu mal?

Passados os tais seis meses, as famílias que contrataram os créditos começaram a falhar os seus compromissos. E, em consequência, a resolver as hipotecas e a entregar os bens adquiridos daquela forma.

As empresas que geriam as hipotecas viram-se, subitamente, com milhares de devoluções de bens que, entretanto passaram a valer metade. Porque já eram usados, porque passaram a estar subvalorizados devido a constituírem e criarem, elas próprias, enormes disponibilidades e excedentes no mercado.

Criou-se um buraco financeiro de enormes consequências. Que rebentou nas mãos dos detentores dos referidos contratos (“junk bonds”). Quem tinha comprado um milhão de créditos tinha agora, em mãos, bens devolvidos que valiam apenas meio milhão… E sem qualquer capacidade de os transformar em liquidez.

Entretanto, os financeiros que criaram os pacotes e as empresas que os avaliaram positivamente já dali tinham “lavado as mãos” depois de recebidas as comissões...

Quem ganhou?

1)A economia americana que usufruiu de todo esse dinheiro, que era real e foi aplicado. Construção e imobiliários.
2)Os comissionistas burlões e as empresas de “rating” que “montaram” os pacotes de créditos. Todos esses tiraram mais-valias chorudas do processo.

Quem perdeu?

Quem comprou os pacotes. Mas não só.

Que consequências?

1)Os investidores muito ricos que tinham parte dos seus investimentos aplicados nestes pacotes passaram a ser menos ricos.
2)Outros investidores institucionais, bancos, empresas hipotecárias e não só (incluindo países) provocaram, em escala, outros problemas.

Que problemas?

Alguns bancos investiram o que tinham e o que não tinham naqueles pacotes. Com a sua desvalorização, passaram a apresentar buracos financeiros que tiveram de ser cobertos, em acção de emergência, pelos governos. Havia um risco demasiado grande, sistémico, em deixar cair muitas dessas instituições.

Os governos então, de forma concertada, intervieram injectando fundos públicos. Criaram deficits orçamentais e acumularam-nos na sua dívida pública soberana. Logo depois, tiveram que transferir esses problemas para os contribuintes.

Os buracos criados nas instituições "salvas", ao serem “cobertos” desta forma, através dos orçamentos públicos, criaram uma (nova) enorme necessidade de financiamento aos governos. O que causou uma falta de liquidez nos mercados onde todos se vão financiar. O que fez subir os custos dos empréstimos. Nada de estranho: se muitos queriam o que poucos tinham, estes últimos fizeram-se pagar. Passaram a emprestar a taxas mais elevadas a quem não precisava, normalmente, de financiamento (Alemanha, Inglaterra) e a taxas muito mais elevadas a outros países estruturalmente menos preparados.

Resumo

Uns espertalhões da alta finança americana garantiram um financiamento significativo para a economia do seu país e encheram os seus bolsos com chorudas comissões. Os incumbentes a quem emprestaram dinheiro tiveram momentaneamente um vislumbre de vida que nunca poderiam vir a ter. Começou e acabou. Passou…

Como o dinheiro não estica nem se multiplica, o processo saiu caro a muitos. Se uns ricos ficaram menos ricos (um dos problemas de quem tem muito é, actualmente, decidir bem onde investir) a verdade é que muitos milhões de contribuintes de muitos países desenvolvidos estão a sofrer, em 2010 e anos vindouros, um difícil “downgrade” na sua qualidade de vida, para pagar aquela despesa.

O orçamento público americano também foi afectado. Pois. Mas esse dinheiro ficou por lá, na sua economia. Junto com muito outro dinheiro, oriundo dos investidores exteriores.

Umas borboletas bateram asas em Nova Iorque e milhões de contribuintes em muitos países desenvolvidos apanharam com uma chuva torrencial.

Factos

Os impactos deste processo nas economias europeias têm várias origens e serão variados:

Como foi referido, alguns países ricos passam a ser menos ricos, mas o que pouparam antes e o que produzem normalmente será o suficiente para ultrapassar e gerir a situação tratando-a como um mero resfriado pontual. São os países formiga.

Outros países, menos ricos ou recém-ricos, que viviam em grande crescimento, estavam mesmo, muito expostos aos “junk bonds”. Tinham ali metido tudo o que tinham e, nalguns casos, o que pediram emprestado. A Islândia e a Irlanda atingiram (de forma diferente) este estádio. Serão países formiga, mas, por possuírem ou terem acesso a muita liquidez naquele momento, acabaram como as maiores vítimas da burla montada nos EUA.

Finalmente, os países cigarra. Que viviam acima das suas possibilidades (em deficit) e se financiavam (através de criação de mais dívida) no mercado, a taxas baixas. Quando acabou a liquidez devido a estas novas necessidades de financiamento que adviram da crise, as taxas dispararam e a sua situação (de cigarra, com níveis de vida acima das suas possibilidades) veio ao de cima, avizinhando-se o seu incumprimento de compromissos.

O certo é que estes países cigarra pagarão com muitos anos de vacas (muito) magras, os poucos anos de vacas (algo) gordas em que viveram.

Haverá outros países que viverão num meio-termo.

Mas, esta crise será apenas um acidente de percurso, na irremediável caminhada para a Nova Sociedade. Um percurso que será feito de procura de equilíbrios (comerciais, produtivos, orçamentais). Mas esses pontos finais se situarão, sem remissão, sempre abaixo dos pontos médios actuais. Porque o planeta onde vivemos não estica, porque haverá um crescimento da população, porque muitos chineses e indianos verão chegada a sua hora de viverem - um pouco - melhor, porque há um grupo que vive e gasta muitíssimo mais do que os restantes, e ainda por muitas outras razões.

O ponto de equilíbrio da Nova Sociedade, nos países desenvolvidos situa-se (bem) abaixo do ponto actual onde se encontram. Até lá, a preocupação é encontrar um percurso que seja o menos íngreme possível, evitando roturas e quedas bruscas, muito mais gravosas do ponto de vista social.

Défices.r

O problema (crise) das dívidas soberanas é, simplesmente, o início de um processo de inflexão e ajuste a que as economias desenvolvidas estarão - incontornavelmente - sujeitas nos próximos decénios.

Estas economias atingiram níveis de riqueza substanciais - por comparação com o resto do Mundo - e procuram, a todo o custo, manter essa situação. Caso toda a população mundial vivesse (e gastasse) ao nível da dos países desenvolvidos, seriam necessários os recursos disponibilizados, de forma sustentável, por mais três planetas Terra.

Com o aumento da população, com o advento da globalização e com as alterações substanciais no mercado da energia e no acesso aos combustíveis fósseis, todos os pressupostos anteriores alteraram-se.

Assim, e devido a estes factos, a sociedade baseada no crescimento económico contínuo a que estávamos habituados vai mudar (o mais suavemente que for possível) para uma Nova Sociedade capaz de acomodar um período de recessão contínua que passará a ser normal.

Uma boa governação pública, que siga boas políticas, nestes países, deixará de ser aquela que assegura o crescimento contínuo (situação que será impossível) passando a ser aquela que conseguirá evitar roturas sociais, garantindo uma “aterragem suave” da sociedade que, nos países desenvolvidos, tem vivido, nos últimos anos, na estratosfera…

Esta aterragem, no entanto, poderá ser seguida, em muitos países, por um percurso difícil, de adaptação ao facto de ter disponíveis muito menos recursos e riqueza distribuível, o que se assemelhará a um percurso de descida em túnel. No fundo do qual, se tudo correr bem, poderemos chegar então a uma Nova Sociedade, equilibrada e com potencial (aí sim) para uma existência sustentável, quem sabe, até, para algum crescimento.

Infelizmente, muitos destes países ainda ignoram (ou aceitam, reagindo devidamente a essa situação) completamente o facto dos equilíbrios globais já não os beneficiarem, por motivos bem evidentes. Nomeadamente, o facto do trabalho sido deslocalizado – fisicamente - para os países em desenvolvimento, onde os custos com a mão-de-obra são inferiores. E, com o trabalho, também foi a riqueza que dele deriva. Não forçosamente para esses países, mas para a “nuvem”, zona virtual, extra-nacional, onde as multinacionais se “instalaram”, longe das leis e dos controlos soberanos.

Nestes países, a riqueza saiu mas os níveis de vida mantiveram-se. Por esta razão, os défices passaram a ser recorrentes e a dívida cresceu… A soberana (pública) e todas as outras (empresas e particulares).

Como todos conseguem entender, com – cada vez - menos riqueza produzida e cada vez mais dívida, o fardo (da dívida) começou a ser cada vez mais pesado.

Até que se tornou insustentável.

Quando isso acontece, usualmente, os Países em questão estão já estruturalmente desequilibrados. Com despesas fixas elevadas (Estado Social) e com o trabalho e a riqueza de saída.

O problema é que, entre a “realização” da situação (no final das ilusões socialistas de terceira via) e o fim do acesso a financiamentos, nos mercados internacionais, não há saídas (ou formas de saída) estabelecidas. A crise das dívidas soberanas, que começaram aqui ou ali, na América do Sul, expande-se para a Europa e ameaça os EUA.

E, se o problema é com as dívidas, a sua origem passa pelos défices. Pois são estes que “alimentam” e criam a dívida.

A dívida soberana (pública), por si, até pode ser virtuosa. Desde que a sua criação tenha resultado de um bom investimento ou de uma necessidade (uma catástrofe). Desde que esteja limitada a uma percentagem – razoável - da riqueza anualmente produzida. Desde que, logo depois, se inicie um período de amortização. Mas, fundamentalmente, que não resulte de défices estruturais e fixos, nomeadamente, de benefícios e serviços (sociais ou não)  insustentáveis.

Quando a estes problemas se juntam outros, onde se incluem “salvamentos” de instituições sistémicas (privadas e não só) grandes demais para falirem (empresas de crédito e análogas), com recurso a financiamentos públicos (pagos pelos contribuintes), tudo de precipita.

Nos países desenvolvidos:

A riqueza produzida começou – naturalmente -  por via da globalização, a decair.
E aí, criou-se uma ilusão.
A de que o crescimento e os níveis de vida seriam sempre crescentes.
As democracias continuaram a eleger governos cuja retórica assegurasse esse objectivo.
O que se revelou irrealista… na esmagadora maioria das situações.

Actualmente, há centenas de milhões de trabalhadores chineses, cujo nível de vida e rendimento é apenas uma ínfima parte da que usufruímos nos países desenvolvidos. O processo de melhoria das condições de vida de toda essa multidão (para um nível que, mesmo assim, continuará a ser bem inferior ao nosso) está a decorrer inexoravelmente e isso impõe uma transferência de riqueza.

O nosso Planeta é finito, os recursos escasseiam e a globalização assegura que o trabalho, os recursos necessários e a riqueza consequente circulam livremente, procurando as melhores localizações, em cada momento, em função da relação custos/produtividade.

E não tenhamos dúvidas: todos acabarão por se encontrar num determinado nível. Que se situará algures bem acima de onde estão hoje as populações médias nos países em desenvolvimento e bem abaixo de onde estão as populações médias dos países desenvolvidos.

Restará apenas saber de que forma cairemos…
De supetão? Ou de forma calculada, calculada e socialmente consciente?

No período recente de ilusão socialista – em que se criou um Estado Social inflexível e de benefícios sempre crescentes, mantivemos gestões em défice, para o sustentar. Nessa ilusão, Estados, empresas e populações inteiras passaram a gastar mais do que conseguiam produzir. E sustentaram a ilusão, pedindo emprestado.

Assim, chegamos ao ponto actual.
A crise da das dívidas soberanas.
Gestões em défice estrutural (com despesas inflexíveis “defendidas” pelas Constituições nacionais) e dívidas soberanas em crescendo e com dimensão bem para além do razoável.
A solução ainda não existe.

Uns procuram solidariedades a partir dos países - amigos - mais ricos. Remedeio que apenas adiará as verdadeiras soluções, e apenas terá validade enquanto os países atrapalhados são pequenos o suficiente para serem salvos…

Outros lutam para aumentar a capacidade legal de endividamento.

São tudo soluções de “encaixe” de mais défice à conta de mais dívida. Apenas se “empurra” o problema para mais tarde. Problema que, entretanto, crescerá e se tornará de mais difícil resolução.

É claramente necessária uma solução. Um desmame. Uma “aterragem” forçada de uma economia em fase de ilusão, mas de forma controlada, evitando quedas abruptas, em rotura, que arrastarão e arrasarão tudo e todos. Mesmo os que hoje ainda se acham seguros...

Os mecanismos actuais não enquadram essa fase de desmame. E deveriam. Pois Grécia, Irlanda e Portugal são meras etapas iniciais. O processo cresce e segue, passando pela Itália, Espanha, arrastando toda a Europa e, não demora nada, chegaremos à mãe de todas as dívidas soberanas: a dívida dos EUA…

Todos sabemos que, o custo de um bem sobe quando a procura excede a oferta.
E que, nesse caso, a escassez pode ser uma realidade.
Avaliemos a situação criada quando esse bem é o... dinheiro.

Como vimos, os países desenvolvidos vivem para lá das suas possibilidades. Dessa forma, criam défices e, para os financiar pedem emprestado. As dívidas acumulam-se, de défice em défice e é preciso mais... dinheiro.

A primeira questão é saber se a soma dos défices (soberanos, empresariais e particulares) é equilibrado com os excedentes criados e disponíveis. Ora, a resposta é não.

O problema dos EUA tornou claro esse facto. De um momento para outro, os EUA colocaram no mercado, necessidades acrescidas de 2,1 milhões de milhões de dólares (num ano) a que se soma todo o refinanciamento da dívida anterior.

Como a emissão (impressão) de nova moeda é uma faca de dois gumes (acaba sempre por se pagar no futuro), os EUA estão, claramente (e mais uma vez) na charneira do futuro do Planeta. Necessitam de (muito) dinheiro externo para o financiamento público. Os mercados reagem ao facto e sobem - naturalmente - os custos do bem que comercializam: o dinheiro.

Com isto, as dívidas soberanas (onde existem) tornam-se mais "pesadas" e, algumas até, onde a gestão pública foi irresponsável, tornam-se insustentáveis...

As soluções aplicadas à Grécia, Irlanda e Portugal foram casos isolados tratados isoladamente. Não configuram uma solução estruturada, pré-definida. Mas apenas um remedeio, válido (?) apenas enquanto as economias enquadradas forem suficientemente “pequenas para serem salvas”. De uma forma paternalista, com uma base solidária (e hipócrita) de alguns grandes países, mais ricos que, como se diz atrás, se acham seguros. Ora, não estão…

Os mercados deverão, para se salvaguardar a si próprios, implementar sistemas de desmame de um problema para o qual também contribuíram. Afinal eles emprestaram. Pelo que devem adoptar parte do risco assumido. E aceitar que só se salvarão (também eles) se o processo – futuro - de emprestar e pedir emprestado se mantiver – sempre – a níveis controlados. O que não aconteceu nos anos mais recentes.

Até lá, é necessário ajustar. Controladamente.

1º As empresas de notação deverão passar a ter como clientes quem empresta e não quem pede emprestado… e passar a assumir um risco, mesmo que longínquo, sobre a avaliação que farão para os seus clientes. Não tem sentido que classifiquem um potencial devedor com rating AAA e, no final do período de maturidade, o credor possa enfrentar um default da dívida em questão. Pelo que, por opção, quem empresta, passará a ter o direito usufruir de um seguro associado à notação efectuada, dentro do contrato de empréstimo que efectua, agora, a três…

2º Os credores deverão entender que ao emprestar assumem um risco. E que esse risco existe mesmo e que pode ter consequências.

3º É nesse pressuposto que, no caso das dívidas soberanas, o devedor passa a ter acesso a um processo (legal) de ajuste (desmame) assim que a notação sobre a sua dívida passe a níveis acima, mas próximos de “lixo”. Uma moratória sobre a dívida. Processo este que pode ser decidido de forma unilateral, mas agora, de forma bem definida e conhecida de todos e, principalmente, de quem empresta. Tudo isto, antes de se dar a dívida como lixo e de haver incumprimento (com ou sem hair cut) descontrolado.

4º Assim, através desse procedimento, ao devedor, seria dado um prazo de ajuste.

5º E ao credor, abre-se uma nova possibilidade de recuperar o seu dinheiro (agora notado, quase ou, como lixo), mesmo que sob novas condições.

6º Assim, em primeiro lugar, a dívida soberana em questão seria dada como insolvente. Abrindo-se o processo de moratória sobre a mesma. Não adianta procurar solidariedades e apoios externos pois, logo se chegará a situações de tal dimensão em que terá de ser cada um por si.

7º O País que se encontre nesta situação poderá, então, activar unilateralmente um estado de INSOLVÊNCIA CONTROLADA (moratória sobre a dívida soberana) em que os credores teriam que se associar. Digamos que é uma das consequências do risco assumido ao emprestar…

8º Nesta nova situação, o País daria a si próprio, um período para se ajustar. Em cada vencimento de uma tranche de dívida, a mesma seria trocada por novos títulos, a 30 anos e a uma taxa de juro igual à dos empréstimos do Banco Central. Todos os anos, para além dos juros, amortizaria 1% do capital. E assumiria este plano de pagamento religiosamente.

9ª Entretanto, toda a "ajuda internacional" seria carrilada para os credores. Na defesa daqueles que possam não ter estrutura para aguentar a solução ou que tenham problemas sistémicos para a economia. Mas aqui, em relação à situação actual, no terreno, estes fundos passam a proteger os credores e não o devedor.

10º Iniciar-se-ia o tal período de desmame. Durante o qual, o país em questão teria que se ajustar… à força, pois a alternativa não seria nada agradável.

11º Reconhecer a evidencia do empobrecimento. De um ajuste em baixa. E de que, antes de voltar a crescer, vai haver uma queda grande da economia.

12º modelo fiscal desses países terá de ser totalmente alterado (e simplificado). Acabam-se com todos os impostos atuais, com exceção do imposto sobre o consumo. Que terá as taxas necessárias (elevadas o suficiente para compensar todos os outros impostos). A máquina fiscal, liberta da situação anterior, de gestão complexa é reorientada para a fiscalização e para a garantia de cobrança fiscal sobre o imposto único restante. Só este modelo manterá a receita fiscal equilibrada face (e proporcional) ao PIB, no cenário de queda da economia.

13º Todos os encargos sociais também se introduzem no imposto sobre o consumo. Eliminam-se todas as retenções e encargos sociais sobre as empresas. Desta forma os encargos sociais são suportados por todos (afinal todos usufruem dos benefícios) e não apenas pelos trabalhadores. Desta forma os produtos externos passam a ser taxados com fins sociais, da mesma forma que a produção nacional (antes isolada), eliminando-se, desta forma, uma das maiores desvantagens comerciais entre ambos.

14º Concretiza-se uma desvalorização salarial generalizada. Na Grécia e em Portugal já feita, pelo menos na função pública. Poderá ser associada a uma redução do tempo de trabalho, o que permitirá que as empresas se ajustem à realidade de novos níveis de procura - em baixa - que se crie mais emprego (cada um com menos trabalho) e que se evite o desemprego, a falência e a desarticulação social.

15º Com os custos laborais reduzidos (através das duas meditas atrás indicadas) poderá haver mais exportações e mais trabalho. E com menos rendimentos disponíveis haverá menos despesa e - espera-se - menos importações. Neste novo paradigma, os défices terão que ser eliminados pois não haverá quaisquer "mercados financeiros" nem "investidores internacionais" que aloquem qualquer recurso financeiro a estes países para o respectivo financiamento...

16º A liquidez cairá abruptamente (o dinheiro existente voa para outras paragens - aplicações rentáveis no exterior - e a poupança caí pela pressão da auteridade) pelo que terão de ser implementados processos de "encontro de contas" - sem dinheiro vivo interveniente - onde se incluirá o Estado, no processo de pagamento de serviços e cobrança de impostos. A fim da economia não parar.

17º O país mantém-se no Euro mas as compras ao exterior passam a ser feitas a pronto pagamento.

18º O suporte social passa a ser determinante neste ambiente de ajuste em baixa. Na garantia dos serviços sociais mínimos para ocorrer aos casos mais dramáticos. Evitando a desarticulação social e a rotura. Focalizando a disponibilização de alimentação, modelos que salvaguardem a habitação (que poderá “explodir” com incumprimentos de crédito) e na saúde, provavelmente através de novos modelos de intervenção baseado num seguro de saúde básico generalizado, a suportar pelo Estado.

É necessário clarificar que estes problemas só acontecerão aos países que decidiram viver acima das suas possibilidades. Que, para isso, pediram emprestado descontroladamente. Que se meteram, por sua opção, na “boca do lobo”.

Não tem sentido, agora, criar antagonismos sobre os mecanismos financeiros (mercados internacionais) que permitiram a criação destas dívidas soberanas, aos quais escolheram – eles mesmos – aderir.

E, quer se queira, quer não, com a entrada – esperada – dos EUA, neste processo, o problema precipita-se…

Se não se seguir esta solução (ou outra qualquer), então, não queiramos conhecer a alternativa…

Dívida.r

Na Nova Sociedade, a Dívida Soberana só existe em termos limitados e, mesmo assim, o seu crescimento só se justifica em caso de necessidade absoluta, motivada por investimentos devidamente justificados por um qualquer imprevisto e/ou catástrofe ambiental ou de outro tipo; e validados por uma maioria qualificada nos órgãos de decisão parlamentar.

Essa validação terá de ocorrer, caso a caso, desde que seja efectivamente necessário assumir despesas inusitadas, que motivem défices e aumentos de Dívida Soberana. Nestas situações, a justificação deve ser pública e a execução (da despesa envolvida) monitorizada.

Independentemente dos procedimentos técnicos e legais usuais (previsão de custos, descrição do financiamento, justificação económica, procedimento de contratação, execução e monitorização da exploração) acresce a publicação de resumos simplificados, em modelo e linguagem acessíveis aos contribuintes.

Ao período de encargos extraordinários, nos termos atrás indicados, segue-se sempre, um período de restabelecimento da situação anterior (dívida zero) e de recuperação dos mesmos. No final, o “resto zero” é sempre atingido, garantindo a saúde das contas públicas e a salvaguarda das gerações futuras.

O problema

Qualquer dívida origina-se em despesas não suportáveis pelas receitas normais. Pelo que, para as satisfazer, é necessário recorrer ao crédito.

Desde há, pelo menos uma dezena de anos, o conjunto dos países desenvolvidos têm vindo a perder trabalho (e a consequente produção de riqueza) para outros. Nomeadamente para países em desenvolvimento ou emergentes.

Os economistas, políticos e decisores, nos países desenvolvidos, mantêm-se fixos na ideia e no pressuposto de que o crescimento (mesmo que futuro) será uma realidade. Mantendo (ou fazendo crescer) gastos de todo o tipo - e para além da receita obtida - em estruturas, encargos sociais e outras, de outro tipo. Tudo isto a pagar (contando com ganhos garantidos pelo crescimento) no futuro.

A forma de legitimação democrática dos decisores políticos faz o resto, impondo, no mínimo, a manutenção dos níveis de distribuição de riqueza com que as populações se foram habituando. As promessas eleitorais, que levam os decisores ao poder garantem esse processo vicioso. Em cada mudança de decisores cria-se um novo subsídio aqui, outro ali, algumas vezes semi-compensado com mais um imposto.

O resultado é simples de subentender: um Estado cada vez maior, com mais despesas que aplica mais (mas nunca o suficiente) impostos. E uma Economia (consumidores e empresas) cada vez mais sobrecarregada pelo crescente esforço fiscal necessário para pagar a actividade estatal.

Custos que, forçosamente, são englobados no preço dos bens e serviços produzidos internamente, tornando-os cada vez menos concorrenciais, não só no mercado externo, mas também no mercado interno, face à necessidade de, também aqui, terem que se impor à produção externa global.

Menos mercado para produtos nacionais, menos trabalho, menos riqueza, menos (ou nenhum) crescimento, mais desemprego, mais custos sociais, défice repetitivo, mais dívida...

Um ciclo que só pode conduzir à rotura.

Neste contexto mundial, é evidente a existência de uma crise estrutural dos países desenvolvidos. Deixaram de crescer já há alguns anos (a menos de um ou outro caso em que “foi descoberto petróleo”) e apenas conseguem apresentar taxas anémicas de crescimento do PIB à conta de défices públicos (e não só) muito significativos, em percentagens do PIB, bem superiores às que evidenciam o “crescimento” das suas economias.

Mesmo não parecendo, este problema afecta todo o conjunto destes países. E não apenas alguns.

Até mesmo a Alemanha, que tem usufruído de níveis de crescimento interessantes, não escapará. Afinal, a sua economia tem usufruído da liquidez financeira que foge dos países mais frágeis; e vende, sendo excedentária, à conta dos excessos de despesa dos mesmos; finalmente, as suas fábricas dependem cada vez mais, de mão-de-obra importada que produz barato, mas que a médio prazo, só originará problemas sociais, através das segundas gerações originárias desses trabalhadores, com culturas diferentes, e que já não aceitam as condições de trabalho dos seus progenitores.

Mas, se esta crise, obriga a mudanças substanciais nas sociedades desenvolvidas, no reconhecimento de um futuro onde o crescimento não ocorrerá, travando os gastos excessivos, a verdade é que não justifica a rotura que – aparentemente – está prestes a acontecer na Zona Euro e nos EUA.

Situação que poderá precipitar os problemas, anarquizando e inviabilizando totalmente as suas Sociedades.

O Capital

Já vimos que a Globalização, no que se refere ao comércio de bens e serviços tem de ser limitada. Nomeadamente, na área da produção local para consumo local.

Por outro lado, no modelo actual, o financiamento dos custos sociais de cada país, está dependente de impostos (ou taxas sociais) sobre o trabalho ou seja, actua e influi no preço dos bens e serviços transaccionáveis. Desta forma, estes perdem qualquer possibilidade de se imporem nos mercados (externos e interno).

Já vimos que a Globalização, no que se refere aos capitais, tornou impossível o seu controlo (material) por parte dos Governos. Sem este controlo, o modelo de recolha de impostos e taxas sobre a sua circulação e património tornou-se tão inútil, como indesejável. Todas as tentativas de recuperação desse controlo só promovem a fuga dos capitais que restam (e tão necessários), para o exterior (para a nuvem).

Os Mercados Financeiros

Entretanto, os mercados financeiros tornaram-se muito mais eficazes.
Para desgosto dos governos, principalmente os mais gastadores.

Esses mercados, cada vez mais deslocalizados situam-se algures na nuvem, numa zona virtual, materializando-se, aqui ou ali, de forma pontual, em bolsas, zonas francas de negócios e off-shores. Sempre e cada vez mais longe dos controlos fiscais nacionais.

Os mercados financeiros são instrumentos (como vimos, cada vez mais virtuais e sem localização definida) onde entidades de todo o tipo (governos, fundos de reforma e poupança, bancos) colocam excedentes financeiros (também lucros) e poupanças. Com vista à sua segurança, prevenção contra desvalorizações (por exemplo inflação e de moeda) e fiscalidade não estável bem como para a criação de alguma mais valia.

Com esses pressupostos, as disponibilidades são aplicadas.
Com vista ao investimento. Em países, em empresas. Em crédito pessoal.

A crise da dívida

Quando um “mercado financeiro” aumenta o juro no acesso de um País aos recursos financeiros disponíveis, penaliza o interessado pelo risco que esse empréstimo contém. Quando esse País não garante a segurança do investimento, os capitais desertam da sua zona de alcance, num ápice. Criando um vazio que poderá precipitar uma rotura (um fim) indesejável. Uma situação que se pode precipitar mesmo quando esse governo já enveredaram pelo percurso certo e já tomaram as medidas correctivas necessárias para ultrapassar o problema.

Também os pequenos aforradores começaram a temer pelo seu dinheiro. Mesmo quando colocado em instituições que, meses antes nunca tinham sido questionadas. Afinal, o meu dinheiro está seguro? Perguntam…

Sendo a poupança tão determinante para o investimento e este, para o crescimento económico e criação de emprego, será muito mau que quem tem recursos financeiros para aplicar não encontre uma aplicação segura e local, que garanta uma reaplicação próxima, em investimentos reprodutivos que também o possam beneficiar. Se a segurança da aplicação só é garantida no exterior, toda a economia local e interna se ressente.

O dinheiro existe. Mas acaba por ser colocado nos bancos dos países do centro europeu. Dessa forma, descapitalizam-se os países periféricos e do Sul. Que não têm outro remédio que não aceder aos recursos financeiros (por vezes com origem no seu território) que estão longe pagando, por eles, juros exorbitantes.

É a crise de confiança nos governos e organizações nacionais que, infelizmente, fazem por isso:

Os governos, gerindo défice em cima de défice e incrementando uma dívida cada vez maior. Arriscando-se a ter que recorrer a resgates (tipo FEEF) que acabam por impor uma quebra significativa do nível de vida (para pagamento da dívida anterior).

Os bancos, tomando decisões de aplicação de recursos de forma totalmente irresponsável (junk bonds e títulos de dívida pública notadas como de “lixo”), sem que sejam penalizados, pois o risco compensa ao garantirem que são sempre salvos por recursos públicos devido a riscos sistémicos.

Por estas razões, o aforrador vê-se desmotivado, começando por colocar a questão sobre se não deverá voltar a usar o colchão como refúgio da sua poupança.

No centro da Europa, a situação é inversa. Há fundos de sobra, por conta da “confiança” que inspiram nestes momentos duvidosos. Vêm afluir muitos fundos a juros baixos (a garantia de segurança na aplicação assim o determina), que são colocados ao serviço da respectiva economia, aquecendo-a e provocando inflação. O BCE, concentrado no seu mandato, aumenta as taxas de referência, prejudicando (mais) os países periféricos, que vêm, assim, crescer os seus problemas. E a fuga de mais capitais. É a pescadinha de rabo na boca. Cujo resultado final é o incremento da distancia entre duas Europas, claramente a ritmos diferentes.

Se esta situação de penalização imediata, sem “segunda oportunidade”, é aceitável e suportável nas pequenas organizações e empresas num mercado concorrencial (são rapidamente substituídas por outras), o mesmo já não acontece com as grandes organizações (de risco sistémico). Nestes casos, a salvação é necessária o ónus acaba por cair – sempre - sobre o contribuinte…

Isto acontece com algumas grandes empresas (nomeadamente de crédito) e com países, no seu todo…

Na Nova Sociedade, todas as grandes empresas que, por hipótese, se apresentem com características que possam pressupor terem risco de falência sistémico são obrigadas a se subdividir até que esse risco desapareça. Isto para protecção do sistema e do contribuinte. Não do accionista e do capitalista que, assumem os riscos fazendo-se remunerar pelos ganhos obtidos.

Nos países desenvolvidos, a quebra da riqueza produzida (e disponível) é uma realidade evidente (infelizmente ainda não reconhecida) mas é gradual. Origina défices e o crescimento gradual das dívidas de todo o tipo (soberanas, das empresas, pessoais) mas não justificaria, por si só uma falência de um sistema.

Mas a verdade é que este risco, de falência de todo um sistema e/ou um bloco está “em cima da mesa”. É uma possibilidade real.

O que nos leva aos Títulos Seguros.

Títulos Seguros

Neste momento, ao nível Global, haverá mais défices que excedentes financeiros nos mercados financeiros. O défice gigante dos EUA é um enorme sorvedouro de recursos. Se se capitalizam para ali as disponibilidades financeiras de forma maciça, o problema de falta de liquidez generaliza-se ao resto do Mundo. E torna mais caro o “dinheiro”. O que se traduz em juros cada vez mais altos…

Sem liquidez suficiente para cobrir as necessidades de refinanciamento de bancos e países, a confiança falha. O que, em consequência,  leva os recursos financeiros ainda disponíveis para longe de quem deles necessita. Desaparecem dos países com problemas de dívida soberana e os bancos deixam de emprestar mutuamente os recursos que lhes restam.

Para além da necessidade do reconhecimento que há um excesso de procura de recursos para efeitos de refinanciamento de dívida e de financiamento de défices face às aos excedentes disponíveis (há mais défices criados por americanos e europeus a gastar o que não têm, do que excedentes libertos por chineses e indianos a produzir para além do que usufruem), faltará, no sistema financeiro, um instrumento evite a fuga dos activos financeiros existentes nos países confrontados com más gestões públicas.

Que permita reter os activos nas zonas geográficas onde são originários. Ou que os faça voltar com base em compromissos e evidências do seu bom (e seguro) uso.

É bastante evidente o desequilíbrio que a situação provoca:

Falta de liquidez nuns países, excesso noutros.
Pelo meio, entidades gestoras completamente baralhadas tentando inverter o processo a fim de reenviar o capital disponível para onde é necessário (BCE e FEEF).

Os países refúgio (desses recursos) que são “afogados” pela liquidez em fuga dos países vizinhos logo perceberão que a situação também se lhes será prejudicial a médio prazo. Desde a valorização (indesejada) da moeda ao excesso de liquidez no sistema que acabará por potenciar o consumo e a inflação. E introduzir excessos e desequilíbrios que, passando a estruturais, são um risco grande.

Os títulos seguros são a solução necessária.
Destinam-se a permitir a aplicação dos recursos nos países de origem evitando a sua fuga. Sem prejuízo da garantia e segurança na aplicação dos mesmos.

Serão do tipo Eurobonds.pt, eurobonds.it ou eurobonds.es

Permitindo ao investidor juntar à sua aplicação financeira uma “etiqueta” onde especifica que os recursos financeiros que coloca devem ser aplicados no país em questão.

Todos entendem que as poupanças e os lucros (que na Nova Sociedade não são taxados) ou sejam, os recursos financeiros que uma Sociedade liberta, se utilizados localmente, permitem o investimento e crescimento económico local, voltando a beneficiar os próprios. 

Este ciclo virtuoso já não está a ocorrer. Está cortado. E inibido.

Actualmente, a opção disponível é a aplicação em títulos de dívida soberana (emitidos por cada governo e com várias tipologias) sem condicionantes. Esta aplicação implica uma confiança total (e quase cega) no governo em questão ou noutros que se seguem, pois a maturidade da aplicação extravasa muitas vezes períodos eleitorais, legislaturas e governos.

Não serve. Não dá garantias e o risco é grande.

Tão grande que os recursos financeiros fogem.
E fogem decidida e rapidamente. Para zonas consideradas seguras, de refúgio.
E em tanta quantidade que “secam” financeiramente, por completo, o país em questão, ao ponto de colocar em risco a sua sobrevivência.

Os títulos seguros, de aplicação condicionada e localizada, são garantidas pela entidade emissora, que os aplica no país em questão se estiverem reunidas determinadas condições:

Contas públicas saudáveis (défice e dívida).
Se necessário, definem-se novas leis, normativos claros e impõe-se uma justiça célere e eficaz que possa atrair o investimento externo.
A implementação de mudanças estruturais de difícil aplicação pelos governos eleitos com base em promessas eleitorais, contrárias ao processo de resgate e contra o mandato eleitoral obtido.
Governação devidamente monitorizada.

Na prática, o país em questão, ao aceder, por necessidade absoluta a esses recursos, na figura de apoio financeiro, acaba por ceder parte da sua soberania – enquanto for necessário - sujeitando-se ao cumprimento de regras (a definir por caderno de encargos) de boa e eficaz gestão pública. Que passa a ser a garantia do investimento.

Sem este instrumento, os capitais (poupanças e excedentes) são colocados indiscriminadamente no exterior do País.

Com este instrumento, esses capitais são aplicáveis no País de origem, sem prejuízo na implementação de condicionantes e de rigor na sua aplicação.