Energia.r

NAS NOSSAS CASAS

Na Nova Sociedade, as nossas habitações terão duas redes de distribuição de electricidade. Uma delas é idêntica à actual. A outra estará ligada a um conjunto de baterias que constituirão uma reserva de energia, para consumo diferenciado no tempo, para a própria habitação e, como se verá mais à frente, para a população em geral. A tecnologia evoluirá e essas baterias serão, gradualmente, mais capazes, baratas e de menores dimensões. Esta rede suportará as necessidades básicas da habitação, nomeadamente a iluminação, electrodomésticos e gadgets de mais baixo consumo. Estes últimos, por sua vez, passarão a ser cada vez menos gastadores.

Esta nova rede será abastecida por equipamentos locais (ao nível da habitação) que aproveitam a força do vento, o calor e a luz solar. Mas também por quaisquer outros sistemas autónomos, através de manivelas ou pedais (a bicicleta estática em que se faz o exercício diário). Sem prejuízo do carregamento normal via rede pública (preferencialmente nocturno, fora dos picos, quando há mais energia e mais barata, disponível ).

Esta nova capacidade de retenção de energia terá um papel fundamental na gestão local de produção-consumo. Guardando energia quando ela existe em maior quantidade e é mais barata e disponibilizando-a nos períodos de maior consumo em que as centrais a combustível são chamadas ao processo. Com ganhos correspondentes em termos ambientais e não só. Este é já um papel que se aponta para os cada vez mais próximos (em quantidade) carros eléctricos. Porque não juntar as nossas habitações ao processo?

À medida que as tecnologias de retenção (baterias) e as respectivas trocas energéticas estiverem mais desenvolvidas abre-se uma nova possibilidade dos particulares poderem obter a energia mais barata, produzida em horas de baixa e a reporem no sistema nas horas de ponta. Passando a ser - também - prestadores de serviço de armazenamento energético. 


Isto será possível se (e quando), em simultâneo, o mercado energético adoptar o realismo de custos, o que acontecerá mais tarde ou mais cedo. Quando se libertar das medidas de financiamento de outras e várias actividades que se encerram - mais ou menos escondidas - nas nossas contas ao final do mês.


Tudo isto se precipitará quando os combustíveis fosseis encarecerem ao ritmo do aumento da sua escassez. O que não demorará muito.

Este sector (energia produzida localmente), por ser parte da componente básica da economia da Nova Sociedade deverá escapar, totalmente, à gestão e regras globais. A concorrência ficará de lado e os poderes locais e regionais poderão e deverão apoiar directamente a investigação e a produção próximas. Aqui incluem-se as teconologias referentes às baterias e aos equipamentos que aproveitarão em cada habitação e/ou região, o vento e a luz, mas também, o calor solar, termal e a força das ondas (nas zonas costeiras).

Apesar deste apoio público poder ser semelhante ao actualmente vigente, na aquisição subsidiada da energia produzida, tem uma diferença fundamental: a produção destina-se a consumo local e a possibilidade de armazenamento é determinante, não só para cada um, como para o sistema eléctrico no seu todo. O apoio deverá ser dado directamente (na investigação, através das universidades e daquela que estiver associada à indústria) e indirecto, cobrando apenas a taxa mínima do imposto sobre o valor acrescentado, aquando da sua venda no mercado. A simplificação na tipologia dos apoios a conceder será essencial.

O apoio à investigação deverá ser preferencial nas situações em que se aponte para tecnologias que utilizem recursos e potencializem a produção local. A taxa do valor acrescentado subirá para o valor médio quando a produção for externa.

NA NOSSA CIDADE

Situação semelhante sucederá nos nossos agregados populacionais. Na Nova Sociedade, haverá uma rede específica ligada, em exclusivo, aos equipamentos públicos, determinantes e básicos para garantir a manutenção das condições de vida. Essa “separação de rede” poderá ser concretizada através de contadores “inteligentes”, evitando redes de distribuição paralelas. Numa situação hipotética (mas que terá de ser prevista) que exija uma contenção de consumos, a distribuição seria apontada, em exclusivo, para esses equipamentos (redes de águas e esgotos, hospitais, bombeiros, etc). A distribuição pública poderia ser limitada às noites, permitindo, apenas nesse período, a carga das baterias caseiras e o consumo nas tarefas (energeticamente) mais exigentes.

Este sistema de distribuição abriria uma nova possibilidade de contratação perante o consumidor: o utente optaria pelo fornecimento nocturno a mais baixo custo, assegurando o consumo necessário diurno através da sua reserva pessoal.

A electricidade nocturna passaria a ser taxada (imposto de valor acrescentado) pelo valor mínimo e a diurna pelo valor máximo. Passaria por aqui a política pública de incentivo ao processo. De forma simples e de fácil implementação.

A política pública de apoio à produção de bens e serviços transaccionáveis actuaria também aqui. Não de uma forma activa. Mas como se justifica fazer quando o Estado intervém: a energia seria taxada de forma distinta conforme a sua utilização: para produção de bens e serviços básicos à taxa mínima, para a produção de bens e serviços transaccionáveis à taxa média e nas restantes situações, à taxa máxima.

A Nova Sociedade traz-nos, aqui, um novo paradigma e uma nova forma de gestão das nossas reservas e produção energéticas.

NO NOSSO MUNDO

Todo o progresso conseguido nos últimos 200 anos resultou da inovação tecnológica que permitiu o aproveitamento energética para nosso usufruto, de matérias-primas existentes na natureza. Principalmente o carvão, o petróleo e o gás natural.

O custo (em energia) do nível de vida atingido pelos habitantes dos países desenvolvidos é brutal. Por outro lado, para além do consumo exagerado, as respectivas consequências ambientais estão já comprovadas.

Muitos estudos confirmam que, as reservas que se vão esgotando não são substituídas por novas descobertas da mesma dimensão. O que significa que as disponibilidades mundiais estão em queda e isto num momento em que centenas de milhões de chineses anseiam por atingir os níveis de vida de muitos dos seus compatriotas, nas zonas económicas especiais. Não vão abrandar até o conseguirem. Até porque o sistema político vigente vive e mantém-se com base nessa expectativa.

Haverá menos petróleo e mais procura (para garantir o crescimento dos países em desenvolvimento). O preço subirá gradualmente e as disponibilidades começarão a se reduzir de forma cada vez mais evidente.

Nessa altura, em que a escassez se começar a fazer sentir com mais intensidade, terão acesso simples ao petróleo os países produtores e apenas aqueles que tiverem condições para assegurarem a sua aquisição. Essas condições serão as financeiras (capacidade produtiva e poupanças disponíveis) e … as militares. Muitos outros países poderão ter que ficar a ver os petroleiros a passar…

A verdade é que se o petróleo chegar para 100 anos, o mais certo é que chegue para 150 anos para uns países e apenas para 50 anos para outros. E, mesmo assim, no caso destes últimos, apenas para aqueles que tiverem contrapartidas comerciais (produção de bens e serviços exportáveis) para a troca. Esta diferenciação no acesso à energia será concretizada através do preço - primeiro - e de outros factores - depois. Nomeadamente (e infelizmente) através do poderio económico, estratégico e militar.

Restará o gás natural e o carvão, alargando por mais uns anos a disponibilidade de combustíveis fósseis. Uma solução (carvão) que apenas causará mais problemas ambientais.

A energia nuclear tem os problemas que tem. Mas, face à situação, será uma solução para alguns países. Os riscos não será apenas tecnológicos, mas também de segurança, perante as alterações climáticas, a instabilidade telúrica e os grupos terroristas, que serão cada vez mais eficazes.


Caso se recue na produção energética a partir da energia nuclear, a alternativa será, de novo, mais petróleo. O que colocará os respectivos preços na estratosfera.

A energia hídrica começa a estar em sobre-exploração e não haverá muitas mais possibilidades de aumentar a sua produção sem impactos ambientais significativos.

E assim chegamos às energias renováveis. A mais lógica é o sol (luz e calor), o vento e as ondas. E a energia térmica.

Um dia teremos acesso a viaturas que funcionam a electricidade, com base em baterias muito eficazes e mais pequenas que as actuais. Que recuperam a energia nas travagens e descidas, através dos amortecedores e nas curvas (por via da geração de energia pelo movimento de esferas dentro de cilindros colocados transversalmente). Essas viaturas estarão integralmente cobertas por uma película que transformará a luz e o calor em electricidade.

Infelizmente, nenhumas destas tecnologias são ou serão substitutas dos combustíveis fosseis. Pelo menos em quantidade e tempo úteis.
Nem serão de esperar, durante um período mais ou menos longo, outros substitutos (plenos) para evitar o processo de abrandamento do desenvolvimento (e da recessão nos países desenvolvidos).

As tecnologias actuais de aproveitamento de energias renováveis obrigam à construção de equipamentos que, nesse processo, consomem quase tanta energia quanta aquela que vão “devolver” ao longo da sua vida útil. As vantagens são, no entanto, grandes para quem puder fazer hoje o investimento, garantindo-se para os anos de “vagas magras” que aí virão. Pois os combustíveis gastos hoje, para produzir os equipamentos em questão, produzirão durante a sua vida útil, uma determinada quantidade de energia renovável que substituirá outra que seria (será) muito mais cara se produzida a partir de combustíveis fosseis.


É neste ponto de vista que os EUA estão a investir, em grande, na matéria. Constroem hoje e limitam o seu consumo amanhã. Se o fizerem tendo como base o investimento estrangeiro... ainda melhor. Para eles e para os investidores. Apesar de não forçosamente bom para os países onde o capital se origina.


Por outro lado, ficam do lado das indústrias, os impactos ambientais. Os países que colocarem esses equipamentos produtores de energia limpa “exportam”, para os países que têm as industrias, a poluição resultante das suas fábricas.

É certo que as tecnologias têm evoluído e vão continuar a evoluir. Mas há limites óbvios e perceptíveis. O que nos levará, claramente, à conclusão que a Nova Sociedade terá que gerir uma redução gradual, mas significativa, das disponibilidades energéticas.

Com o maior impacto a recair nos países desenvolvidos, muito maiores consumidores que produtores.

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