Educação na Nova Sociedade
Intervenção social – papel do Estado
O papel do Estado é fundamental
para assegurar que os apoios sociais mínimos são assegurados, a todos.
A educação é um dos elementos
mais importantes na promoção social. Daí que (na sua componente básica) deverá
ser obrigatório e financiado por recursos públicos.
O sistema educativo
(principalmente o Ensino básico) terá de ser assegurado de forma universal –
para todos, onde estiverem. Sem prejuízo de, neste processo, ser determinante e
necessário um bom ordenamento territorial, assegurando que as pessoas vivem em
comunidades de dimensão mínima onde possa ser aceitável (em termos de custos)
fazer chegar a panóplia mínima dos serviços (públicos e não só) necessários a um
determinado nível de vida de qualidade estabelecida.
A Educação (nomeadamente de infância,
básica e secundária) é um destes serviços.
Necessita de ser assegurado e
financiado. E “produzido”.
Porquê?
1)Por razões claras de integração
social: só assim se poderá garantir um upgrade das competências médias da
população no seu todo. Alguém educado será alguém mais integrado. Mais apto e com
mais alternativas de ser útil e de produzir, para si e para a Sociedade. E
menos susceptível de entrar e ser “levado” a aderir a processos de gangs e
vandalismo social que actualmente é motivo de preocupação e discussão pública
nos países desenvolvidos.
2)A fim de garantir uma
plataforma de formação educativa e técnica para a vida social e profissional.
3)Assegurando um apoio às
famílias que trabalham e a outras – socioeconomicamente - incapazes ou
desmembradas, concedendo ocupação útil e mais-valia formativa e educativa às
crianças e alunos, futuros cidadãos.
Onde e o quê?
A oferta deverá ser garantida segundo
regras demográficas e de ordenamento de território.
Em função da dimensão da procura,
em escolas devidamente dimensionadas e garantindo deslocações não
penalizadoras.
Deverá ser garantida oferta de
serviços desde o nascimento até aos 18 anos.
As componentes básicas do serviço
deverão ser gratuitas (serem financiadas por recursos públicos).
Deverão ser acrescidos serviços
complementares a custos sociais. Estes serão pagos ou comparticipados pelas
famílias, neste último caso, em função dos respectivos rendimentos. Isto se
ainda não se tiver chegado à implementação do Apoio Social em que a
contribuição social e o usufruto dos apoios se faz através de um modelo simples
e de acção única.
E o serviço em questão necessita de ser produzido. Por quem?
Pela sociedade civil (oferta
privada ou solidária) e pelo Estado (quando a oferta actual é por ele
assegurada ou quando a oferta da sociedade civil não existe ou deixa de
existir).
A oferta pública não terá que ser
feita sobre as restantes. Nem o inverso.
As duas soluções podem e devem
coexistir, por razões de qualidade (conseguida através de concorrência), de
diversidade (alternativas) e ainda, de custos públicos (a escolha de uma
alternativa privada deverá conter um custo – prémio – para as famílias, sendo
mais em conta, para o Estado). Isto se coexistir uma oferta pública na zona.
A ideia do apoio ao
estabelecimento (privado) deve ser substituída pela ideia do apoio à família,
no exacto custo da componente educativa do serviço que deve ser subsidiada
integralmente (nestes níveis educativos). Sem prejuízo do seu cálculo ser
transparente e não implicar, garantidamente, mais custos aos erários públicos,
face às ofertas públicas que coexistem.
Mas, garantindo essa base, ficará
evidente a mais-valia da existência dessas opções alternativas. Se os alunos
estão ali (no privado) e não acolá (no público), acabam por custar menos, do
ponto de vista dos recursos públicos. Porque, sendo uma oferta dentro da
escolaridade obrigatória e, sendo esta componente (a obrigatória) gratuita,
cabe sempre ao estado assegurar que os alunos têm a oferta, que a utilizam,
subsidiando essa frequência (e não o estabelecimento em si).
Todas as avaliações feitas
ao sucesso (e insucesso) dos alunos conduzem a um factor único que se revela
determinante: a formação de base das suas famílias. O sucesso deriva e é
garantido, muito mais, pelas características socioeconómicas e pela formação de
base do seu agregado familiar do que pelas condições escolares.
Se as famílias têm um nível
acrescido de formação é provável que tenha melhores rendimentos e maior
potencial alavancador na formação dos seus descendentes.
Haverá sempre um grupo (as
excepções que confirmam a regra) que fogem a este desígnio. No sentido negativo
e no sentido positivo. Se o primeiro
grupo de excepções reúne casos a lamentar que terão de ser resolvidos pontualmente
pelas famílias e pelas escolas, apoiadas socialmente, os casos do segundo
grupo, deverão ser encontrados e apoiados activamente, através de bolsas
(prémio) de estudo. Pois será neste grupo que se identificarão, mais
precocemente, as aptidões e características mais importantes dos cidadãos da
Nova Sociedade. Pois serão estes que conseguem furar as barreiras sociais,
evoluindo da normalidade para a excepção, contra tudo e contra todos os que os
rodeiam.
A Educação deverá ser
garantidamente para todos.
E cabe ao Estado garantir isso.
Garantir não é Produzir e Assegurar
não é Fazer.
Organização
A organização do sistema
educativo (grosso modo) deverá considerar uma componente obrigatória. Que
poderá ser evolutiva, após cumprimento dos objectivos anteriores.
A oferta deverá ser privada ou
pública e a escolha da escola deverá ser livre. Mas regrada. Garantindo a
capacidade de resposta local (considerando toda a oferta existentes, privada e
pública, sem excepção) mas permitindo as candidaturas a frequências em outras
escolas (que não apenas as locais), nas vagas que estas poderão ter, depois de
colocados os alunos moradores que por ela optaram.
E incluir vários níveis de
actuação nos quais o financiamento público deve ser claramente definido.
Creche e JI inferior
Em estabelecimentos próprios,
quando a dimensão populacional e a procura a médio prazo o justifique ou
através de ofertas mais curtas e reduzidas tipo núcleo infantil (que se
desenvolverá desde o simples enquadramento por familiar disponível, à ama
social e a pequenas estruturas com alguns grupos de bebés/crianças).
Financiamento misto: parte Estado
(componente de pessoal) e parte Familiar (restantes despesas).
JI superior e 1º Ciclo
A partir dos 4 anos e até aos
10/11 anos, já com generalização de frequência. Em estabelecimentos com
dimensão mínima a fim de evitar, ao nível do 1º Ciclo, grupos demasiado
heterogéneos, nas idades e nos conteúdos a ministrar. A rede de
estabelecimentos, a este nível deverá ser flexível e adaptável a todas as novas
circunstâncias (procura) que possa ocorrer a médio prazo.
Financiamento público: total,
pelo Estado. As Famílias apenas suportam os serviços complementares
(alimentação e transportes). Se o serviço educativo for privado, o Estado
financiará a componente de pessoal apenas. O custo excedente (seja ele qual
for, incluindo a componente diferenciante da oferta) será suportado pelas
famílias como “prémio” pela escolha feita.
2º e 3º Ciclos
Profissional nível 2
Ciclos de formação básica. Já em
poli docência. Em Estabelecimentos algo maiores, que reúnem áreas geográficas
mais latas e assegurem alguma massa crítica docente (e não apenas,
docentes/grupo isolados).
A formação profissional de nível
2 será percurso alternativo para os (poucos, espera-se) alunos que apresentem
insucessos algo repetitivos nestes níveis básicos. Em escolas profissionais ou
nas Escolas Secundárias (ou que ministrem o Secundário) em que os níveis
etários se equivalham. É a melhor forma de integração (pela idade) evitando a
sua manutenção junto aos alunos mais jovens, no percurso normal do ensino
básico.
Financiamento: idêntico.
Secundário
Profissional nível 3
Cursos secundários de
prosseguimento de estudos, a caminho do universitário onde é determinante a
exigência e a qualidade.
O ensino profissional de nível 3,
ao contrário da de nível 2, já deverá ser uma opção a ser tomada à partida (por
quem concluiu o 9º ano). Não deverá ser resultado de insucessos acumulados mas
poderá já ser uma opção da base.
Não impede que agregue também os
alunos vindos dos cursos profissionais de nível 2 e aqueles que, optando, à
partida pela frequência dos cursos via ensino (universidade) reconsiderem essa
opção.
Estes cursos podem ser
ministrados nas Escolas Secundárias (e nas Escolas Profissionais – os que
exigem instalações e equipamentos mais específicos).
A continuidade de estudos (para o
ensino superior) fica em aberto.
A transversibilidade deverá estar
garantida entre as duas ofertas, por via de componentes – conteúdos - comuns
(idênticas) e por unidades formativas complementares por “blocos”.
Financiamento idêntico.
Licenciatura
Profissional nível 4
Financiamento público: parcial.
As Famílias suportam os serviços complementares (despesas correntes, para além
da alimentação e transportes) através de mensalidades. Deverá ser implementado
um mecanismo de bolsas de estudo suportado por financiamentos de vária origem:
Empréstimos bancários.
Trabalho comunitário (ou part
time).
Pré-contratação dos melhores (por
empresas que financiarão parte dos custos de formação).
Público: com vista aos melhores
alunos (e não todos) originais de famílias comprovadamente sem recursos.
Este sistema será promotor da
qualidade, pois o insucesso e o desleixo terá custos…
Mestrado
Doutoramento
Financiamento público: nenhum. Os
estudantes suportam os custos através de mensalidades. Deverá ser implementado
um mecanismo de bolsas de estudo suportado pelo mecanismos atrás indicados.
Formação Complementar (para além da obtida anteriormente ou de
actualização de conteúdos)
Formação de Adaptação (ajuste da formação inicial já desactualizada ou
desnecessária)
Idem.
Financiamento educação e ensino em estabelecimentos
privados
Consolidada a noção que havia
tudo a ganhar em abrir e diferenciar a oferta educativa, esta passou a ser
oferecida livremente por instituições particulares. Algumas vezes sob concessão
pública (por iniciativa pública, mas produzida por privados), outras de
iniciativa totalmente livre.
Nos casos em que fica comprovada
que a oferta inclui o serviço público, uma parte significativa do mesmo é pago
por recursos públicos. Ficando garantido que todas as famílias são subsidiadas
naquela componente básica, independentemente da sua opção. A menos de um
pequeno custo que se mantém com as famílias, por conta ou a título de “prémio”
de escolha.
Nos casos em que a oferta é
pública (mesmo pública e/ou por concessão/associação) os respectivos custos são
integralmente cobertos por transferências de recursos públicos, ao abrigo de
contratos de financiamento, regras de funcionamento e compromissos de
resultados.
A lógica do cheque educação é
interessante. No entanto ajusta-se mal a situações em que a componente
educativa tem custos demasiado díspares. Pelo que é mais ajustado um processo
que inclua financiamentos da componente educativa, fácil, mas muito
concretamente definida.
Essa componente educativa, que
será o serviço público, a financiar por via de recursos públicos.
Outros custos do sector:
Rede Escolar. Maximizar estruturas
– fim investimento.
O Ensino Superior será financiado
a partir das propinas sendo aceitável, à medida que isso seja possível, que uma
parte do mesmo possa ser suportado por actividades de investimento, paralelas,
incentivadas por contratação pública. Os alunos pagarão as propinas
generalizadamente, podendo usufruir de bolsas e empréstimos avalizados,
baseadas na qualidade e sucesso que demonstrem. Obviamente, situações de
insucesso e chumbos serão tolerados, mas nunca financiados pelos contribuintes.
A origem dos alunos em famílias
de baixos rendimentos poderão potenciar as condições de acesso às bolsas e
empréstimos.
Gestão escolar
A Gestão Escolar deve ser
exercida e controlada por quem paga o serviço.
Sendo um sistema subsidiado por
fundos públicos, o Estado deve ser elemento determinante. A que se juntam os
utentes (que suportarão algumas das suas componentes e serviços
disponibilizados).
Deverão também intervir no
processo quem presta o serviço. Nomeadamente os docentes que deverão ter exclusividade
(regrada) na gestão pedagógica das organizações escolares.
Apoio Social
Os apoios sociais incidem sobre
os serviços não suportados de forma generalizada, a todos os utentes.
Transportes. Livros. Alimentação.
Seguros.
Deverá ser limitada a quem necessita
e demonstra qualidade. Com a finalidade de a financiar e potenciar.
Docentes
Os docentes são o elemento mais
importante no processo que está centralizado no aluno. São o primeiro
instrumento e, provavelmente o mais determinante num qualquer processo de
melhoria que implique mudança.
Os professores não deverão ser
sobrecarregados com demasiadas tarefas administrativas, muito menos aquelas que
não resultam em mais valias para o próprio desempenho.
Deverão se concentrar na docência
e com o objectivo desta: acrescentar mais-valia aos respectivos alunos.
Os melhores professores deverão
ser premiados. Daí ser importante separar os melhores dos restantes. Desta
maneira, não só se motivarão os melhores a continuar a sê-lo, como se motivarão
os outros a melhorar para alcançarem os lugares premiáveis.
A Curva de Gauss aplica-se,
também, aos professores. Haverá poucos maus, muitos médios e poucos muito bons.
Mas, como esta classificação exige uma avaliação difícil, problemática e que
consome muitos recursos e tempo, será de todo mais aconselhável passar a
escolher os melhores, anualmente, em cada escola, que são, por essa razão
premiados.
A situação actual, é redutora e
mediocrizante. Ao se premiar (?) através de subidas na carreira que acabam por
calhar a todos sem excepção. O sistema de avaliação conduz a resultados
totalmente desajustados da realidade gaussiana e desmotiva o esforço e a
qualidade, ao não diferenciar – na premiação, progressão – quem é melhor…
Num modelo em que o estado tem
que intervir bastante torna-se necessário estabelecer regras para a corporação
(docente) dominante. Que, pela dimensão terá sempre alguma força política para
impor alguns benefícios, para além da média aplicável aos restantes
funcionários públicos.
Assim, os concursos para
contratação terão que existir, sem prejuízo de melhorias com vista à
contratação dos melhores e exclusão dos piores. Porque se for para ter um
dentro a trabalhar mal e receber salário e outro, de qualidade, fora, a receber
um apoio social, há razões para trocar as posições entre ambos…
Nova Educação
Na Nova Sociedade, os apoios públicos deixarão de ser para todos (largando
os que não querem) e se concentrarão nestes (que querem e demonstram que
conseguem). E que, sendo menos, terão mais…
Na Nova Sociedade, a Escola:
É estável e não estará dependente
do primado do pedagógico que hoje define uma coisa como verdade, amanhã outra.
Não potencia o facilitismo: a
vida não é fácil, a Escola não pode ensinar o que a vida não será.
Não determina e aumenta mais e
mais horas de aulas a ocupação semanal dos alunos apenas para defesa do emprego
docente.
Não hesita em alterar currículos,
introduzindo novos conteúdos apenas porque terá que retirar outros, menos
relevantes ou já desajustados, simplesmente porque isso reduzirá a ocupação de
docentes encarregues destes últimos.
Incluirá profissionais de outras
áreas (gestão, psicologia, assistência social) como elementos determinantes,
evitando somar contributos de professores que tudo fazem, tipo canivete suíço,
apenas para defesa do controlo total da organização pela corporação docente.
Duvidará de ideias pré-concebidas
tais como as de que as aulas de manhã e as turmas com menos alunos são sempre
preferíveis.
Poderá escolher os seus docentes,
mesmo que (algo) limitada a um grupo pré-habilitado via concurso nacional.
Valorizará as suas elites e
procurará esbater desigualdades valorizando que tem mais dificuldades e
demonstra querer melhorar.
Não perderá muito tempo nem
recursos com que não quer e demonstra isso.
Terá um financiamento ajustado às
suas necessidades, claramente determinadas através de critérios claros e que
valorizam os progressos demonstrados.
Acabará de uma vez com o álibi
dos equipamentos/instalações (desajustados) para justificar maus resultados.
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