Indivíduo.r

Na Nova Sociedade, a integração individual é assegurada na medida exacta da respectiva produtividade e comportamentos. O apoio (social) da comunidade terá a dimensão possível, em função da riqueza produzida.

Acabam-se os direitos sem deveres associados.
Os direitos daqueles que não se integram e desestabilizam a sociedade.
Os direitos que vão para lá das capacidades de financiamento da própria sociedade.

A formação básica e estruturante de cada um será determinante. Quanto maior for essa formação, mais apto estará o indivíduo a enfrentar o seu futuro. A aptidão técnica, em função das tarefas a concretizar, será mais valorizada ou mais desvalorizada.

Mais valorizada, nos empregos de elite, ensino superior e investigação.

Nestes casos, a especialização é levada aos limites, esperando-se destes indivíduos a inovação e criatividade que irão criar a diferença face às outras sociedades. Sairão deste grupo os artistas, os líderes e os investigadores.

Menos valorizada, na maior parte do restante trabalho disponível.

Aqui, outros factores, que não a especialização técnica, se valorizarão: a iniciativa, a adaptabilidade, a inteligência, a integração, a capacidade de comunicar. Ou seja, a capacidade individual de “banda larga” que assegura que a componente técnica, necessária a cada função ou tarefa é rápida e efectivamente adquirida e exercida com a produtividade exigida.

A mudança será uma realidade cada vez mais frequente. Mudança de tarefa, de empresa, de local, de país. Quem tiver melhor formação de base e for mais adaptável, pertencerá ao grupo dos elementos mais produtivos das comunidades. Dos que terão acesso ao trabalho e aos seus rendimentos. Dessa forma, o sucesso profissional deste grupo (profissionais de alto nível deslocalizados) será uma realidade. Infelizmente, este sucesso (que depende demasiado de factores distintos da estabilidade) é de curto-médio prazo e poderá ser algo volátil e bastante "material". Ou seja, poderá ser incompatível com uma ideia de "felicidade pessoal" que será cada vez mais valorizada (a médio/longo prazo).

O que nos leva a outro grupos de indivíduos (profissionais locais de alto nível) não menos aptos, mas que optarão por usufruir de menores rendimentos, por via da valorização da estabilidade e de um certo tipo de (qualidade de) vida. Ocuparão lugares de topo na comunidade local, em funções mais estáveis e de forma mais prolongada a fim de assegurarem a manutenção do elemento mais determinante para a comunidade local: a família, a descendência e o futuro.

O sucesso profissional não é o objectivo individual único – e o mais importante - na Nova Sociedade. As sociedades desenvolvidas precisam cada vez mais da família - clássica - que terá de ser o mais estável possível no sentido de garantir o ambiente educativo de base ao maior número possível de crianças. Os indivíduos que optarem por este percurso deverão ser cada vez mais valorizados pelo papel que cumprem na sociedade.

E, infelizmente, hoje, não o são.

O grupo que se segue, assegurará, também, com muita rotatividade, as tarefas e o trabalho local que se vai criando e desaparecendo. Porque, não tenhamos dúvidas: as oportunidades serão variadas, mas virão e irão embora. E este será um dos factores mais determinantes na criação de trabalho local: a liberdade do investidor vir (e com ele, o trabalho e a riqueza) e ir sem, entraves burocráticos.

Hoje, em muitos países a criação de atractivos ao investimento é bastante significativa. No entanto, essas medidas chocam com a dificuldade de saída. E ninguém vem e investe, para ficar preso…


Ninguém entra numa sala sem janelas, sabendo que lhe fecham a porta atrás e a trancam por fora. Qual o problema de se facilitarem 100 despedimentos se esse facto trouxer 200 empregos ao País? Infelizmente a demagogia dos partidos da esquerda retrograda que ainda restam aqui ou ali, actua e se potência na desgraça alheia. Atrasando este processo.

Este grupo de trabalhadores locais terão sempre uma situação volátil e o trabalho será precário. Condição, hoje “negativa” mas que, para muitos, num futuro próximo será positiva. Porque será sempre muito melhor ter um emprego precário (é trabalho e rendimento, na mesma) do que não ter nada para fazer. O que será determinante para uma melhor condição de vida. O Suporte Social será a “almofada” sempre presente para os períodos de transição entre empregos. A imigração (sazonal ou periódica) será sempre uma possibilidade presente neste grupo de trabalhadores.

Finalmente, teremos os restantes. Os não trabalhadores.
Como vimos, o trabalho não chegará a todos.
A uns porque não são (realmente) capazes. A outros porque não há oferta suficiente e os seus níveis de adaptação funcional (educação e formação) não lhes permitem disputar os - cada vez menos - lugares com o grupo anterior. Neste caso, a respectiva existência será suportada pelo apoio social estatal único (o Suporte Social) e outros apoios, vindos da sociedade civil (ONGs) que se incrementarão gradualmente, com vista ao equilíbrio das novas sociedades não dependentes, em exclusivo, do Estado.

O processo de transição

O primeiro passo constituirá na criação efectiva do Suporte Social.
Como apoio estatal único, suportado pelos impostos de todos.


Depois, garantida essa base universal:

1)Deverá ser erradicado todo o emprego sem trabalho associado. Se apenas há trabalho para três trabalhadores não devem estar cinco a assegura-lo. As empresas deverão ser livres para ajustarem a sua capacidade produtiva às necessidades do mercado a qualquer momento. Ajustando a oferta à procura. Caso contrário, nas alturas de redução de procura, os custos fixos (nomeadamente com o pessoal) mantêm-se (a produtividade baixa) e os bens e serviços custarão mais caro. Arriscando-se a que deixem de ser concorrenciais, o que pode levar a empresa à falência. Aí, deixam de ter trabalho, não os dois indivíduos excedentes, mas todos os cinco que trabalhavam na empresa. Este processo pode ser feito de duas formas:

a)Despedindo.
b)Não despedindo, mas reduzindo tempo de trabalho - e o respectivo rendimento de forma proporcional - de cada um dos trabalhadores. 

2)Deverá ser reestruturada a economia, eliminando funções e tarefas que hoje parecem produtivas, mas que amanhã serão desnecessárias. Se houver menos crime ou um sistema de impostos mais simples, haverá muito menos empregos nas estruturas que gerem as respectivas áreas. Este processo pode ser feito de duas formas:

a)Despedindo.
b)Redireccionando os funcionários para outras tarefas (algumas que se criarão na Nova Sociedade).

Terminado este processo de transição, teremos uma sociedade real, que actuará de forma a manter no activo os trabalhadores que traduzam aefectiva  necessidade produtiva e não a necessidade de empregar…

O risco da sociedade que apenas se preocupa em empregar é o de criar empregos fictícios e desnecessários, encarecendo a estrutura produtiva e reduzindo a competitividade e hipotecando a possibilidade venda dos produtos resultantes. O resultado será a perda total…

O Ajuste


Esta economia real, onde apenas trabalha quem produz e só se produz o que é mesmo e efectivamente necessário, criará um grande grupo de indivíduos não trabalhadores. Mas o processo não terá de ser de rotura. Poderá ser gradual:

Numa primeira fase, o ajuste poderá e deverá ser feito através da redistribuição do trabalho existente. Reduzindo de 7 para 6 ou 5 horas de trabalho diário.

Esta redução deverá ter algumas regras.
Se decidida unilateralmente, apenas poderá ser gradual e parcial (de 7 para 6 horas apenas).

Para não haver redução do tempo de trabalho ou para que esta seja a máxima admissível, teria que haver acordo de ambas as partes. E tudo o que for acordado entre ambas as partes passará a ser possível. Sem prejuízo de haver algumas “balizas” legais para evitar situações extremas.

Desta forma, não só se distribuiria (mais) o trabalho disponível como a economia e as empresas (principalmente as pequenas e médias, menos protegidas) poderiam aproveitar para ajustar a sua mão-de-obra às necessidades reais, à dinâmica do mercado e à situação económica pontual do sector onde se inserem.

Mas há limites neste processo.
Pois nem todas as tarefas são divisíveis.

São exemplo as tarefas mais especializadas. Mas, nesses casos, os indivíduos não são um problema para a sociedade. E nunca o serão. Pelo contrário, toda a dinâmica local dependerá da iniciativa, empreendorismo e investimento realizado por este grupo. Serão líderes e deixarão de ser "patrões".

Mas há indivíduos que perderão - mesmo - o seu trabalho. Outros serão “empurrados” para a redução horária. Outros, felizmente, porque mais produtivos, manter-se-ão nos níveis de trabalho (e rendimento) actuais. Ou emigrarão.

Na divisão do trabalho, apenas terá sentido a redução do tempo diário em que o mesmo se concretiza. Não deverá ser considerada a possibilidade do aumento dos dias de férias. A menos de situações em que o trabalho seja muito sazonal (em termos anuais) e isso seja aceite pelas duas partes.


Isto para que o efeito de aumento da qualidade de vida diário seja outra das vantagens a obter. Acentuando os benefícios para a vida familiar, tão importante na Nova Sociedade.

O modelo de reforma datada é eliminado. Pois só assim de ajustará a nova regra de estar “o melhor em cada posto de trabalho”. Sabendo que haverá cada vez menos trabalho disponível, mesmo depois de o redistribuir, haverá muitos sem trabalho. Daí que não terá sentido reformar mais tarde e deixar improdutivos os jovens altamente formados. 


O modelo da progressão na carreira é eliminado. E substituído pela premiação aos produtivos. Prémios que são atribuídos face a um período específico e que se destinam a garantir a manutenção no lugar dos melhores, reduzindo o risco do empregador perante a possibilidade se saída daquele trabalhador.


Perante dois indivíduos, um no posto de trabalho e outro a pretender aceder ao mesmo, o empregador deverá ser livre para escolher. Sem prejuízo de serem implementadas algumas "almofadas" de protecção social, para além do (sempre) garantido Suporte Social


Num modelo em que os ordenados sobem à medida que passa o tempo em que o trabalhador está na empresa, sobe o risco de despedimento perante pretendentes ao lugar (pois terão menores custos para a  empresa). Pelo que esse mesmo modelo cai. 


A valorização do trabalho - quer no acesso ao mesmo (perante outros candidatos) quer na premiação pela maior produtividade - será maior, em detrimento do modelo actual, em muitos países, socialista, rígido e igualitário. 

Ao retirar indivíduos do desemprego, reduzem-se os problemas sociais. Ao se garantir um Suporte Social independentemente do rendimento do trabalho, também. Ao não se cobrar impostos sobre estes rendimentos cria-se um melhor clima para a procura de trabalho, desvalorizando a opção (actual) pela subsidiação a quem nada faz. 

Com a maior flexibilização do trabalho, os salários mínimos desaparecem.

Despedimento

Depois de aplicada a medida de Ajuste (que será um período de “aviso” ao trabalhador), o despedimento poderá ser uma realidade pois, como vimos, no final deste processo, restarão muitos ainda, sem trabalho. A Nova Sociedade integra um grande número de não trabalhadores (serão até a maioria, se incluirmos crianças, estudantes, reformados e incapacitados).

O despedimento deverá perder o “peso negativo” actual. E será tratado de forma simplificada, nomeadamente para ser colocado um novo trabalhador no lugar de um outro (aí a decisão será sempre unilateral, do empregador) ou para equilibrar a capacidade de trabalho instalada à procura existente.

O processo de despedimento será sempre efectuado sobre o Suporte Social. Não nos esqueçamos disto. Apesar de ser simplificado, o despedimento implicará, sempre uma indemnização a atribuir. Será o "prémio" a pagar pelo empregador que esperará recuperá-lo no ganho de produtividade objectivado pela "troca". Este valor deve permitir um período de ajuste (de tipo de vida) ao trabalhador e um tempo para a procura (ou criação) de um novo lugar de trabalho.

Em contraponto, sempre que o despedimento é feito por razões de substituição, o novo trabalhador passará um período de adaptação em que a sua remuneração crescerá gradualmente até ao valor definido contratualmente. Compensando a empresa pela indemnização a atribuir ao trabalhador despedido.

Finalmente

O trabalho ficará à mão de quem trabalha mais e melhor. O que é exigível para as sociedades que se querem produtivas. Que assim ganham capacidade de libertar riqueza que potencie apoios sociais mais significativos.


O trabalho, para além de ser o bem mais valioso na Nova Sociedade, constituirá a propriedade particular mais importante na mesma. O Estado não deverá ter qualquer possibilidade de actuar sobre esse bem e sobre o seu rendimento. Daí que os mesmos deixam de ser tributados, assim como os recursos que daí advierem e que sejam poupados para usufruto futuro (a aplicar em fundos ou seguros de desemprego, doença e/ou complemento de reforma). 

Os restantes indivíduos, sem trabalho (estudantes, reformados, incapazes e menos produtivos) serão a maioria. Todos viverão do SUPORTE SOCIAL. Esta nova situação obrigará a que a Nova Sociedade desenvolva uma nova forma de organização política. Já não servirá a Democracia, nem o sistema eleitoral actual, em que a cada indivíduo caberá um voto…

Na Nova Sociedade, a Democracia será uma desvantagem global.

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